Puerpério e espiritualidade

Neste quinto texto faço reflexões sobre puerpério e espiritualidade com base em minha vivência neste período misterioso, desafiador e de incrível beleza e aprendizagem.

O caráter espiritual do puerpério é negligenciado junto com um monte de conhecimento humanísticos e filosóficos que se perderam ao longo do tempo. Atualmente, não respeitamos nem o puerpério físico do pós-parto, quem dirá os aspectos mais sutis. Seu sentido simbólico e experiência espiritual hoje é totalmente desconsiderada. Mesmo assim, a energia deste ciclo de passagem acontece, consciente ou inconscientemente. Não há como negar.

Sabemos muito pouco sobre o assunto, a maioria das mulheres não é preparada para este momento. Na verdade ignoramos praticamente tudo sobre os ciclos femininos. Acabamos por não ter com quem conversar ou pedir ajuda. O acesso à literatura é limitado então novamente ficamos em solidão, nos calamos e tentamos absorver o furacão que está dentro de nós. Desta forma, rompemos, não por não sermos fortes suficiente, mas porque furacões não podem ser bloqueados. Eles precisam passar, levando o que não serve e deixando espaço para o renascer.

Os tabus que negam o puerpério e a espiritualidade

Ouvimos falar: “Ah, mas eu não tive puerpério.” “Eu não senti nada disso”. “Comigo não existiu sofrimento, não tive essa experiência de quebrar emocionalmente”. Se você pensou isso, lhe convido a reavaliar este momento. Buscar recordar sua experiência nos primeiros três ou quatros anos de seus filhos.

É possível, e comum, que utilizemos de ferramenta de defesa para vivenciar experiências difíceis. Um exemplo claro são as dores do parto. A primeira reação é: “nunca mais vou parir”. Mas depois que tudo passa essa dor muda de significado e viveríamos novamente. Exceto claro quando a experiência foi traumática por conta de um aporte não adequado ao momento. O período também é de extremo cansaço que também impacta na memória.

Sendo assim, pode ser que suas memórias do puerpério tenham sido “guardadas” por seu inconsciente como uma forma de lidar com tudo o que passou. E não há problema nenhum nisto. Sabemos tão pouco sobre inteligência emocional e é natural usar ferramentas de defesa para lidar com emoções e sentimentos que não conhecemos. Há um agravante para quando nos deparamos com fragilidades, pois fomos educados a ser competitivos e vencer a qualquer preço.

São falhas de nosso processo cultural de desenvolvimento que começamos a compreender. Não é culpa ou defeito seu, é nosso karma coletivo. Porém, há a opção de resgatar esta experiência, com mais conhecimento para se conhecer melhor absorvendo os ensinamentos deste período ou mesmo cura de traumas que podem ter surgido neste momento sensível.

Um caminho é estudar sobre este processo. Outra opção é abordar o assunto dentro de sessões terapêuticas. Acredito que estudar e refletir sobre este momento vão lhe ajudar a se compreender melhor, o que é sempre positivo.

Rituais e ciclos de vida

Esse tipo de momento do ciclo de vida é entendido como um ritual de passagem dentro da filosofia. Nós vivemos vários destes episódios durante a vida, mas não temos o hábito de dar a devida atenção à eles. E, quando o fazemos, geralmente é uma comemoração mais externa sem reflexões profundas do que estamos vivendo ou o que aquele acontecimento significa.

Os ritos que fazem parte de nossa cultura são aniversários, casamento, formatura, os 15 anos, batizado, nascimento dos filhos. São basicamente momentos que marcam uma nova etapa, outros desafios e mais aprendizagem. Olhar para o verdadeiro significado destes episódios tem um benefício incrível de auto-conhecimento. Nos prepara reduzindo sofrimentos e ampliando nossa capacidade de aprender o que precisamos na etapa da vida.

Eu por exemplo, sempre fui muito sensível às mudanças de setênios. Porém só aprendi sobre elas depois dos 35 anos. Só então compreendi os processos que passei no passado e pude compreender o que aprendi com eles. Conhecer os ciclos e viver esses ritos naturais a nossa existência tranquiliza nossa jornada. Não que ela fique mais fácil, mas ela terá menos sofrimento e coisas mal resolvidas.

Maternagem e Puerpério como ciclo de vida

A maternidade é um ciclo muito especial. Talvez até mais que um ciclo, mas uma opção de vida. Ao decidir por exercê-la, escolhemos uma nova estrada para percorrer. Eu enxergo a maternidade como uma espécie de mini-processo iniciático, feito na medida para nós humanos.

No campo filosófico, a vida é uma escola. Todas as experiências servem para nos ensinar algo que vai contribuir para evoluirmos na condição humana. Neste processo a maternidade é uma oportunidade de um “plus”, uma aceleração do nosso desenvolvimento. Há um aumento significativo dos desafios o que te convida a evoluir mais rápido. Ao assumirmos a maternidade nos transformamos por completo, desde o corpo físico até os anseios espirituais.

Com certeza outras escolhas de vida também aceleram o processo de alguma forma, mas aqui nos cabe refletir sobre o ser mãe.

Puerpério é a porta para a maternagem

O puerpério é a porta de entrada para um grande novo ciclo. Este nos exige o uso de nossas potencialidades e nos mostra nossas fragilidades. A puérpera está entrando neste caminho como quem chega a um treinamento neste novo universo. É o momento em que ela se depara, subitamente, com toda sua nova condição. Um portal que plasma o que imaginamos durante a gestação. Tempo para aprender sobre suas novas atribuições e reconstruir sua identidade, assumindo seu novo papel na sociedade.

Trata-se de um processo de educação humana, não apenas de senso físico: como manter o bebê vivo, mas emocional, psíquico e espiritual. Como manter este bebê saudável em todos seus aspectos e qual o papel social e político que a mulher assume ao ser mãe. Não podemos ser levianos e simplificar este momento.

O puerpério é espiritual e introspectivo mas não solitário.

Introspecção é muito diferente que solidão. O puerpério é um momento muito introspectivo. A mulher é convidada a entrar em si mesma. Há um processo de encontrar todas suas sombras e medos. De se questionar se é mesmo capaz, para encontrar dentro de si a força que precisa para seguir na caminhada.

Precisamos ter clareza de nossa identidade enquanto ser humano para poder estruturar nossas novas atribuições, sem perder a referência interna que vai além dos papéis sociais que exercemos.

E este encontro com nós mesmos, que junta quem éramos, quem estamos e quem seremos exige introspecção, um tempo só nosso para conseguir perceber que são os desafios que o bebê propõe que nos conduzem pelo mar do puerpério. Desta forma, ao fim deste período intenso de aprendizagem e reflexão sobre si mesmo, podemos chegar ao final desta iniciação e dar sequência a um processo de maternar mais leve e pleno.

Puerpério e o mito do herói

Nos mitos de heróis percebemos que este nunca está solitário. Há sempre um mestre ou seres da natureza se movimentando para que o herói vença suas provas e que tenha ferramentas para isso. Espadas mágicas, fadas, fenômenos da natureza, o herói nunca fica só. Os mitos são inspirações para nossa conduta na vida.

Muitas mulheres reclamam de solidão durante o puerpério. Considerando os mitos, nossas heroínas não devia sentir-se sozinhas em sua história heroica. Este é um sinal de que o processo não está fluindo como deveria. Desta forma, acredito que, ao contrário do indicado, estamos deixando nossas puérperas intimamente sozinhas. E isto nos impede de crescer enquanto conjunto. Este hábito não qualifica nosso maternar e seguimos gerações e gerações com os mesmo sofrimentos.

Perséfone e Hades

Outro mito com o qual relacionei meu puerpério foi o de Perséfone, filha de Deméter, a Deusa da agricultura, símbolo de generosidade, dação, geração de vida. Perséfone é raptada do Olimpo por Hades, o Deus do mundo inferior, e torna-se sua rainha. Mais tarde, há um acordo entre os Deuses e ela passa a viver metade do ano no mundo inferior e outra metade no Olimpo. Enquanto ela desse ao subterrâneo temos o outono e inverno e quando ela sobe, temos a primavera e o verão. Deméter,

O puerpério envolve esses dois mundos, o subterrâneo, de sombras e introspecção. As sombras do inverno, o frio de precisar assumir e superar por si só os desafios deste momento da vida. E a primavera e o verão que envolve toda a energia vital que surge com mais intensidade e potencializa as belas virtudes para que a maternagem seja exercida, apesar de todas as dificuldades.

Deméter procura Perséfone desesperadamente. Ela luta com todas suas forças para ter a filha de novo e a acolhe quando retorna ao Olimpo. Deméter pode representar as mulheres mais experientes, que já passaram por este processo e por o terem vivido de forma consciente conseguem acolher as aprendizes, puérperas que estão se construindo enquanto mães. Deméter não impede que a filha seja raptada, nem que retorne ao submundo onde é rainha. Ela não atrapalha o protagonismo da filha, mas a acolhe, acompanha, cuida. Um cuidado não para que não sofra, mas para que tenha as ferramentas necessárias para a sua trilha.

Reconhecermos o sentido espiritual do puerpério o qualifica e permite que possamos aprender com essa experiência e principalmente, que tenhamos condições de apoiar outras mulheres para que passem com mais acolhimento e sabedoria por este ciclo.

Não é presença física

Não falo de falta de presença física, pois muitas vezes há muita gente envolta. Falo de apoio profundo, cumplicidade, acolhimento, humanidade. Os amigos tendem a desaparecer. A mulher é tratada como uma ET vivendo uma coisa que ninguém sabe como lidar.

Há tabus e desconhecimento sobre o que acontece neste período pós-parto. Não falamos sobre isso, sabemos que a mulher está sensível, que precisa ser tratada de uma forma especial. Porém não sabendo como e por medo de fazer errado, nos afastamos. Existe muita cobrança, julgamento e palpites.

Tem um desrespeito a mulher, que é infantilizada e tratada como se não tivesse bagagem interna para cuidar de seu bebê e de si mesma. Há uma estrutura que promove o medo e a insegurança ao invés de coragem e força. E este agir tóxico está enraizado na sociedade. Oriundo de um processo cultural problemático que estamos começando a descobrir e dialogar sobre.

Não é a mãe, sogra, irmã, marido que são desrespeitosos, mas uma cultura que ignora e desrespeita porque ignora o valor espiritual e simbólico deste momento. Esta visão materialista e prática onde tudo é simplificado e minimizado funciona muito bem para processos de produção e máquinas, mas não se aplica ao ser humano e suas minúcias.

Terrenos inóspitos

A nova mãe percebe que está em um terreno inóspito, que não será acolhida. Que deixou de ser Maria para tornar-se a Madalena da história bíblica. Então ela usa o recurso natural humano ao sentir-se ameaçado: lutar, paralisar ou fugir.

A manifestação de suas defesas diante deste cenário de insegurança física e emocional onde a mãe é infantilizada, tratada como incapaz, desequilibrada e ignorante é, naturalmente, criticada e julgada.

Como defesa essa puérpera pode se tornar agressiva em suas decisões, afastando as pessoas que lhe geram insegurança. Ainda pode tornar-se submissa, passando a acreditar que não é capaz. Ou ainda fugir, indo mais a fundo em sua solidão ou ignorando a introspecção, olhando apenas para fora. É possível que estes processos se misturem. E tudo isso gera uma confusão danada na cabeça da puérpera e de quem esta ao seu redor. Este cenário gera afastamento.

Assim o puerpério deixa de ser introspectivo e passa a ser solitário.

O problema

Como não vivemos de forma qualificada e consciente os ciclos do puerpério, então sofremos mais do que precisamos. Algumas mulheres tem sorte de encontrar uma maneira de trabalhar com isso, que pode ser via terapia, via grupo de mães ou mesmo com um parceiro, amiga, familiar que realmente a ajude neste processo. Porém nem todas são privilegiadas.

Devemos lembrar que, na maioria dos casos, quando familiares e amigos não ajudam no processo é por ignorância de não saber do que se trata, não entender e não ter a mínima condição para ser empático com a situação.

Se quem vive o puerpério não sabe o que precisa, imagina alguém que não o está vivendo, e não sabe nada a respeito. Essa pessoa naturalmente não tem como ajudar.

Por isso precisamos busca conhecer e ensinar sobre estes momentos.

O sofrimento desnecessário

Só conseguiremos qualificar o puerpério e permitir que a experiência das puérperas seja mais proveitosa se começarmos a entender do assunto. Buscar e disseminar conhecimento sobre os três aspectos deste ciclo de importância vital para a sociedade. Pois, ele impacta na vida da mãe e na forma que esta mãe vai educar seu filho, na fase mais importante da vida, que é a primeira infância.

Geralmente este tipo de conhecimento passa de mãe para filha e a qualidade desta relação vai marcar profundamente o futuro da humanidade, por isso precisamos resgatar a perspectiva completa deste ciclo de vida. Não sermos limitados ao famoso “vai passar”, num sentido subentendido de “engole o choro, ignora o sentimento e espera”. Puerpério até passa, mas deixa marcas profundas que perpetuarão por gerações.

Precisamos buscar conhecimento sobre isso, ver como foi nossa experiência, encarar as frustrações, as dores, as feridas que o puerpério deixou em nós e assim, encarando, curar. E curando, poder olhar empaticamente para as novas puérperas, sem julgar, sem cobrar e sem calar. Promover então uma nova geração que poderá viver a maternagem com menos dor e mais espaço para evolução.

O caminho espiritual

O caminho espiritual não é trilhado sozinho. Esta caminhada se faz em conjunto, aprendendo, experimentando e ensinando. Aprendendo com quem já a vivenciou e ensinando quem virá depois. Essa trilha conjunta é que faz a humanidade evoluir.

De forma simplificada, os homens levaram milhares de anos para evoluir até o surgimento da agricultura e pecuária. Mais tarde, surgiu a escrita e o processo de evolução acelerou. Outro marco foi o surgimento da imprensa que deu mais um gás ao desenvolvimento. Por fim, a tecnologia nos trouxe uma aceleração nunca antes vista devido ao compartilhamento de conhecimento e informações. Por que? Porque ao conseguirmos registrar e transmitir conhecimento, evitamos repetir os mesmos erros. Quanto menor as possibilidade de compartilhamento de conhecimento, mais lenta a evolução. Quanto temos acesso a experiência de outros, não partimos mais do zero, já temos parte do caminho trilhada, assim podemos construir um pouco mais.

Esta lógica pode ser aplicada também nos processos de maternagem, principalmente nos primeiros anos onde a mãe aprende seu novo ofício enquanto seu bebê vai se desenvolvendo. E este processo seria muito menos cansativo e saudável se for acolhido como parte fundamental no desenvolvimento da vida.

Por onde começar

Quebrando tabus

Puerpério não são 40 dias e não se limita ao resguardo físico pós-parto.

A puérpera não é frágil, nem desequilibrada, mas uma pessoa passando por um ciclo de vida que lhe exige muito da esfera física, emocional e espiritual. Ela precisa ser acolhida e não humilhada.

A gestação não pode ser limitada a exames físicos do bebê, decoração do quartinho e compra de roupinhas fofas. Isso faz parte, mas não é o principal.

O nascimento de um bebê humano é um ritual sagrado, umas das mais belas manifestações da natureza, não podemos esquecer isto.

Precisamos qualificar

Precisamos qualificar as relações humanas com menos violência, mais respeito, responsabilidade e empatia. Ouvir mais, julgar e impor menos. As relações hoje estão muito tóxicas, competitivas e cheias de julgamento e preconceito inclusive dentro das famílias.

O círculo próximo à gestante, familiares e amigos íntimos, devem assumir uma postura respeitosa com a magia e processos sagrados que envolvem a gestação e recepção de uma nova vida. Sim, é preciso assumir o compromisso de sermos quem somos e estarmos onde estamos cumprindo o papel de acolher com qualidade esta gestante, mãe e bebê. É para isso que existem tantos rituais durante a gestação como o contar à família, o descobrir do sexo, o chá de fraldas/benção, a escolha do nome, dos padrinhos, o nascimento, a primeira visita, a lembrancinha da maternidade. Todos são rituais que perderam seu sentido sagrado e ficaram apenas festas, sem sentido simbólico. Mas como o rito e símbolo são tão importante em nossa vida, mesmo não reconhecendo sua profundidade, não abrimos mãos destes momentos. Raramente pensamos sobre o sentido destas festas, mas a fazemos como uma necessidade humana.

O valor do acolhimento

A mãe precisa de acolhimento, carinho, cuidados e respeito. A família precisa deste cuidado. E o círculo de apoio precisa ser empático, calar suas expectativas, cobranças, julgamentos para parar e observar a nova família, quem são, o que acreditam e como querem caminhar por sua trilha. A rede de apoio deve acolher e dar suporte nunca esquecendo que o protagonista é o núcleo familiar que aquela criança esta envolvida. Enquanto rede de apoio precisamos refletir e assumir nossos papeis reais, sem manifestar e impor nossas necessidades. Não é sobre nós e nossas vidas, mas sobre um bebê e uma família que renasce. Temos que deixar de ser imaturos. Parar de nos aproveitar da fragilidade alheia para impor nossas vontades e carências. Falar menos e demonstrar mais empatia, compaixão, bondade, serviço e doação.

Um grande aporte ao momento são círculos saudáveis de mães, rodas de conversa, encontros, apoio mútuo de quem está vivendo o processo, pois são experiências muito difíceis de serem compreendidas por outros. Ainda mais em um cenário onde há tanta mudança cultural e estrutural acontecendo de uma geração para outra.

Resumo

O puerpério é um rito de passagem que envolve aspectos físicos, emocionais e espirituais. A puérpera representa a figura mitológica da heroína, passando por sua trilha iniciática de transformação de mulher em mãe. Um momento de introspecção dentro de si, para olhar profundamente sua identidade e a partir dela se reconstruir, livrando-se do que não serve mais e assumindo seu novo papel na sociedade.

Há toda uma mística simbólica envolvida neste processo que é muito individual. Trata-se do encontro entre nossas sombras e nossa luz interna. Uma batalha é travada para que possamos colocar luz em nossos campos sombrios e assim vencer nossa versão que cuidava apenas de si para conquistar uma versão mais amorosa, capaz de cuidar de outro ser humano.

Precisamos resgatar a visão sagrada do nascimento do bebê e da mãe, para darmos o devido valor a este momento, acolhendo essas pessoas e qualificando a vida de toda a família.

Para isso precisamos aprender sobre este momento tão importante e aproveitar melhor a profundidade experiências do puerpério. Assim ganham as mães, os bebês e a sociedade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.