Sobre como somos despreparados
Essa semana fui a um chá de fraldas. A gestante estava com muitas dúvidas do tipo que chamo de “dúvidas técnicas”.
– Como usar a fralda?
– Quando usa tiptop e quando usa body?
– Que diabos é um “Cueiro”?
Neste cenário lembrei o quanto me sentia despreparada e sem ter a quem recorrer. E hoje ainda me sinto despreparada e sem ter a quem recorrer.
Claro que temos alguns recursos, como os pediatras, o famoso livro “A vida do Bebê”, ou mesmo literaturas diversas sobre puericultura e maternagem. Temos ainda amigos, psicólogos, pedagogos, parentes e os indispensáveis Google, Babycenter e YouTube.
Acontece que, mesmo abusando desses recursos, me sentia despreparada, sentia que faltava algo. Não me faltavam informações, mas sentia que não iria saber o que fazer com aquele bebê quando saísse da barriga.
No fundo uma voz gritava dentro de mim: “Não me deixe sozinha com ele”.
Hoje vejo que a maternagem é assim, cheia de técnica, mas vazia de algo mais profundo que vou chamar de “magia”.
Sim, quando damos à luz temos acesso aos instintos e hormônios que nos ensinam o que fazer com aquele bebê fofo que chora. Graças a isso nossos bebês sobrevivem e nós também. Vamos usando isso de forma meio desengonçada e cheia de medos e vacilos.
Mas sempre senti falta de algo mais. Algo que nossa cultura não tem cultivado. Há uma magia na arte de maternar que em algum momento da história da humanidade deixou de ser transmitida.
Falta algo que nos ensine a usar esse amor abundante com mais inteligência. Que nos faça perceber instintos e intuições e usá-los de forma equilibrada. Sim, porque muitas vezes usamos instintos sem inteligência. Muitas vezes nos falta discernimento para ver o que é resultado de carências e falhas de caráter e o que são intuições. Tudo isso vai impactar negativamente nossos filhos, algumas vezes de forma branda, algumas outras de forma profunda.
Um dia acordamos grávidas. Nossos olhos ficam embaralhados, e não é de emoção, mas de medo. Procuramos alguém que nos diga que o POSITIVO daquele exame significa mesmo positivo. No fundo o que queremos é um amparo, alguém que nos acolha e nos mostre amorosamente o caminho. Sem jalecos, sem julgamentos ou cobranças. Porque naquele momento percebemos que estamos sozinhas e que temos pouca bagagem sobre como custodiar um novo ser humano, uma nova alma.
Porque temos acesso a todas as respostas técnicas. O que nos falta são respostas às perguntas mais profundas, aquelas que não sabemos muito bem como formular, que às vezes não temos palavras, apenas sentimos. Sentimos falta de alguém que diga de forma verdadeira: “Tenho certeza que farás o teu melhor” ou, “Conte-comigo” ou mesmo um abraço que compreenda e acolha tuas dúvidas. Somos carentes de acolhimento.
Em algum momento deixamos de fazer isso. Deixamo-nos encantar pela fofura dos bebês e esquecemos-nos de acolher as mães. Os bebês nos seduzem como sereias, mas quem precisa de atenção, acalento, amor, são as mães. Quando aprendermos a fazer isso, garantiremos um futuro melhor.
Durante minha primeira gestação eu tentei ler muito, mas a correria do dia a dia não permitiu. Sempre tinha algo para fazer, um trabalho, um e-mail para responder, algo para comprar. Na minha segunda gestação deixei coisas de lado e li ainda mais. Porém não encontrei o que estava procurando, não consegui encontrar essa “magia”, essa coisa que falta de profundo nos livros de puericultura, a liga que nos dará a segurança do caminho a trilhar.
Sim, a vida é um risco e não há caminho seguro. Mas há um fio condutor que nos mostra que estamos no caminho certo. E é este fio que, quando mães, vemos de forma embaçada, como se estivéssemos em uma estrada coberta por uma névoa densa. Vamos caminhando sem enxergar nada à frente. Ficamos confusas e inseguras como se a qualquer momento fossemos pisar em um buraco sem fim.
Mesmo lendo, pesquisando, não avistamos o ponto de luz que deveria estar no fim da estrada. Precisamos reacender esta luz, reencontrar esta parte da maternagem, esta chave que unirá técnica e magia e permitirá que nossas crianças se tornem cidadãos sem traumas, limitações e neuroses. Essa chave nos fará evoluir.
Ainda assim acredito nesta magia e o motivo é que em alguns momentos nesta busca incansável, eu a vi. E nestes momentos eu pude maternar sem medo, sem neuroses, de uma forma pura, humana e amorosa, em toda profundidade que isto pode ter. É preciso acreditar na magia.
Mais adiante espero conseguir escrever sobre isso. Por enquanto peço para que compartilhe aqui nos comentários o que você sente a esse respeito e como podemos melhorar para que esta magia aconteça.