Certa vez propus uma brincadeira sensorial com farinha para distrair o Benjamim.

Na época, Ben tinha 2 anos e meio, frequentava a escolinha pela manhã e ficava as tardes comigo.
Conheci este tipo de brincadeira com a pedagogia Montessori. A proposta é deixar a criança brincar com materiais que tragam sensações fora do convencional e permitam que a criança desenvolva habilidades.
Outro ponto interessante deste tipo de atividade (e de toda atividade com crianças) é que também aprendemos. Para isso basta observarmos não apenas o comportamento da criança frente ao desafio, mas como nós nos comportamos e o que aprendemos a partir dessa observação, seguida de reflexão.

Como fiz a brincadeira 
Peguei uma bandeja, dois potes de sorvete, uma colher e uns botões infantis com formas de coisas. A diversão foi por parte da farinha.

Coloquei os botões no pote e virei a farinha por cima. Tudo isso foi posto dentro de uma bandeja, no box do banheiro (deixei bem seco antes) para limitar a sujeira a um espaço fácil de limpar. Como ele já caminha essa limitação é importante.

Antes de começar combinei  as regras com ele para evitarmos confusão. As regras são que só poderia ficar no box, quando acabar a brincadeira tem que ir direto pro banho e que precisaria escutar minhas orientações de segurança com atenção.
Com tudo já no box, deixei ele entrar e explorar os materiais de forma livre. Sentei no banheiro e fiquei só observando.

A ideia é justamente não intervir nem ensinar, mas deixar a criança experimentar livremente. Sem mostrar como faz, sem julgar ou dizer que não é assim. É o momento da criança explorar, descobrir, tentar, falhar, ficar frustrada e conseguir. É a experiência dela, em um ambiente tranquilo e seguro para que ela possa despertar e treinar suas habilidades físicas e emocionais conforme sua necessidade, não as nossas.
Ele explorou livremente a experiência. Minha expectativa era que ele procurasse os botões que estavam na farinha, mas ele não fez. Logo começou a transferir a farinha de um pote para o outro com a colher.

Depois de um tempo coloquei duas bolinhas de madeira no pote e ele brincou bastante com elas. Começou a colocar a mão na farinha. Depois começou a pendurar a colher nas laterais e jogar farinha pra fora.

Num dos momentos ele não conseguiu uma coisa que se propôs e deu uma chorada. Foi o momento de experimentar e superar a frustração. Aí cabe ao adulto não dizer como fazer, mas incentivar a tentar novamente ou simplesmente deixá-lo resolver seu problema.

Como saber se é hora de intervir? Se a situação colocar em risco a criança a intervenção é imediata. Se a criança solicitar ajuda você pode participar, mas cuide para não resolver seu problema, mas orientá-la.

Quando ele começou a enjoar dei uma peneira. É bom ter umas cartas na manga para ir avançando na brincadeira. Crianças nesta idade ficam envolvidas uns 30 minutos no máximo em uma atividade.
Integrando mais recursos você consegue distraí-las por mais tempo.

No fim ele começou a brincar com as mãos e espalhar a farinha no box. Não gostei muito, mas não intervi. Neste ponto percebi que ele mostrava sinais de impaciência e comecei a pensar em como acabar com a brincadeira de forma agradável e pacífica.

Ele começou a jogar farinha para fora do box. Fui perto e disse calmamente que não, que a regra era só dentro do box. Perguntei se ele tinha cansado de brincar e ele disse sim. Neste momento comecei a negociação para o banho (na verdade eu não havia combinado sobre o banho no início, o que dificultou). Propus uns copinhos para ele usar no banho e ele aceitou. Aí me ajudou a juntar a farinha e arrumar a bagunça e fomos para o banho.

Meus desafios

  • Aguentar a sujeira. Isso liberta nossa mente e nos deixa mais flexíveis para sairmos do padrão de querer tudo limpo e ordenado. Nos prepara para enfrentar melhor situações mais caóticas. 
  • Autocontrole: quando ele quis parar de brincar e levantou pronto para espalhar farinha pela casa (sabe aquela cena de filme onde a polícia precisa desarmar um suicida? Me senti a polícia: Qualquer passo em falso e a farinha dominaria a casa inteira). Se você entrar na vibe dele e se desesperar você perde. Se manter o controle emocional e a gestão da situação você vence. Treino de controle, segurança e liderança;
  • Lidar com desafios como convencer ele a se limpar depois de ter cansado de brincar;
  • Não dar ordens e deixar a criança agir livremente mesmo não sendo o que estávamos esperando;
  • Não intervir, nem conversar com ela durante a brincadeira exceto se ela tiver a iniciativa ou pedir ajuda (neste caso seja pedagógico e ensine, não resolva);
  • Observar a criança, ver o que ele está fazendo, quais habilidades desperta, o que o desafia, seus sinais de tédio, frustração, alegria. É uma habilidade importante para educar.
E você, já se propôs a este tipo de tempo com seu filho? O que aprendeu? Compartilhe conosco!

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