Um dos dramas mais chatos da maternidade é que as pessoas ficam perguntando e cobrando coisas o tempo todo.
– Já sabe o sexo?
– Já sabe o nome?
– Já desmamou?
– Não vai cortar o cabelo?
Se fossem só os questionamentos, tudo bem. O problema é que essas perguntas se repetem (pelas mesmas pessoas) e começam a ter tom e intenção de cobrança.
Deus me livre você dizer que não quer saber o sexo do bebê.
Eu fiz chá de revelação nas duas gestações e foi um saco a cobrança das pessoas antes do chá. Se os pais estão lidando com sua curiosidade sobre o sexo, amigos e parentes tem a obrigação de controlar a sua curiosidade, se não for por auto-crescimento individual por solidariedade com os pais do bebê que estão se esforçando por algo que eles acreditam (é como oferecer sobremesa para a amiga que você sabe que está de regime).
Meus bebês só ganharam nome quando nasceram. Também foi um martírio de pessoas querendo saber o nome e não aceitando que a criança não tinha ainda. Não, não tinha nome porque também não tinha rosto (até tinha, mas eu não conseguia ver). Chegamos a ouvir: “Coitada, não tem nome, que absurdo.” Não, não é coitada, e não é nenhum absurdo. São escolhas de cada um que devem ser respeitadas.
Agora que o Ben tem 2 anos e meio anos e está com o cabelo grandinho e cheio de cachos fofos, a pergunta é:
Quando vou cortar os cabelos dele?
Perguntar sobre o sexo e o nome até que é cabível, quando feita pela primeira vez e sem comentários chatos depois de ouvir a resposta. Já sobre o cabelo não faz o menor sentido. Se a pessoa tem cabelo comprido é porque ela não quer cortar, se ela o quisesse, cortaria.
Desta forma quando quisermos cortar o cabelo da criança, vamos lá e cortamos.
Ninguém chega para o adulto e diz: “por que você não corta seu cabelo?”, ou, “por que não deixa ele crescer?”, ou ainda, “por que não pinta de amarelo?” É uma decisão individual e temos coisas mais importantes para conversarmos.
Então, quando acharmos apropriado cortar o cabelo do nosso filho vamos cortar, assim como quando acharmos que ele deve aprender inglês, ir na natação ou mudar de escola. Não precisa ficar cobrando. Se não for possível se controlar mesmo, comenta uma vez e deu!
Por que não cortamos seu cabelo?
Simplesmente porque ele não quer cortar e porque achamos fofos seus cachos.
Acreditamos que devemos respeitar nosso filho e seu tempo para que cada experiência seja adequada e construtiva.
Quando ele manifestar interesse e vontade de cortar o cabelo, vamos cortar, com respeito e sem traumas.
Acreditamos que crianças precisam ter o direito a desenvolver responsabilidade e autonomia e isso pode ser feito desde a primeira infância com assuntos simples e adequados. Há tantas coisas que as crianças não tem condições de decidir, não precisamos tirar seu direito do que ela pode ter autonomia.
Não precisamos impor padrões culturais que não impactam na formação da criança e ela não vai ser pior porque tem cabelo comprido.
Ah, mas vão confundir ele com menina…
Pode ser, mas e daí?
Crianças pequenas não tem tantas características físicas para percebermos se são meninos ou meninas. Há autores que dizem que isso nem importa tanto, que crianças são crianças e precisam de coisas de crianças. As questões relacionadas ao sexo realmente relevantes vão surgir um pouco mais adiante e aos poucos.
Percebo que várias vezes quando alguém confunde o sexo de uma criança pequena é por falta de observação. A pessoas, na ansiedade de falar, não prestam atenção. Sabe quando vamos a uma loja e começamos a mexer em tudo, olhando com as mãos ao invés de usar os olhos? Fazemos isso com as crianças. Ao invés de olhar queremos pegar e quando não é adequado pegar, queremos falar. Experimente observar as crianças e esperar que ela lhe aborde e aprenda com elas.
Desenvolva a habilidade da atenção e observação e seja um ser humano melhor. Precisamos treinar essas habilidade que serão importantes no trato com as crianças, com os adultos e até na profissão.
Não, não nos importamos que o confundam com menina.
A criança pequena não se importa que confundam seu sexo, ela mal sabe o que isso significa.
Nesta fase ela começa a descobrir que há diferenças entre meninos e meninas e vai compreendê-las de forma bem positiva e adequada se não lhe impactarmos com nossos preconceitos. Deixe viver!
Mas e quando a crianças começar a achar ruim?
Provavelmente ela irá manifestar desconforto e poderemos conversar sobre isso e ajudá-la a decidir o que fazer.
Assim como há um amadurecimento da criança para o desfralde, há um amadurecimento para outros aspectos de seu corpo que devemos respeitar. Por isso que de tempos em tempos perguntamos se ele quer cortar o cabelo. Pode deixar que nós fazemos isso e não precisamos de ajuda.
Mas e se você não perceber que ela está desconfortável?
É pouco provável. Desde que as crianças nasceram fazemos um exercício diário de as observá-las e conversar sobre seu comportamento buscando entender o que querem manifestar. Então, conseguimos perceber seus desconfortos e buscar origem e soluções para eles.
O que queremos evitar?
– Ter que obrigar nossos filhos a cortar o cabelo de forma bruta e violenta.
– Ter que inventar histórias para convencê-lo a cortar o cabelo e a ficar quieto na barbearia.
– Ter que aguentar uma criança revoltada e chorando na barbearia ou usar de recursos de convencimento como chantagem, recompensas sem sentido e etc.
O que queremos?
Guardar energia para coisas que são realmente importante e que precisamos convencê-lo a fazer pois impacta na sua saúde, como tomar banho, cortar unhas, lavar mãos e não comer doce.
E que ninguém fique tentando convencer uma criança a cortar o cabelo e usando formas violentas e inadequadas de fazer isso como:
– Perguntar quando ele irá cortar o cabelo. (Que tal perguntar se ele está feliz)
– Afirmar que ele deve cortar o cabelo.
– Ameaçar cortar seu cabelo (gente, isso é violência psiquica e é pior que palmada).
Ah e não somos os únicos
Aqui tem um pai falando deste assunto também, com alguns argumentos iguais aos nossos e outros que ele acha relevante também.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=b6aEi4Z0zzk]