Pelo respeito à maternagem:

A mãe é a última a saber.

Dá vontade de gritar, de ir às ruas, de parar o trânsito, parar o Brasil para ver se acordamos logo do absurdo que está acontecendo com os brasileirinhos que nascem em nosso país e suas mães. É gritante a falta de respeito à maternagem.

Falta respeito à maternagem dentro e fora dos hospitais

Não falo da precariedade de hospitais e da falta de acesso ao pré-natal. Falo de uma precariedade que vai além da negligência técnica, é a negligência humana. Essa falta de respeito à maternagem afeta a todos, ricos, pobres, mães, bebês, quem tem filho e quem não tem.

A maternagem no Brasil faliu antes da previdência. Para um país justo, precisamos de cidadãos justos. Para um cidadão justo, precisamos de uma criança bem cuidada e para uma criança bem cuidada devemos dar condições aos pais de fazerem isso. E não damos.

Parto natural foi esquecido

Parir de forma natural no Brasil é extremamente desgastante, e não falo do trabalho de parto, falo do trabalho de burlar um sistema que te conduz à cesárea desnecessária e às fórmulas infantis (leite artificial). Você imagina quantas horas é preciso para achar um médico que faça parto normal? E quando você acha que achou, no fim da gestação eles vão te incentivando a mudar de ideia. Na hora do parto surgem motivos nada imparciais para que pareça que você escolheu a cesárea de livre e própria vontade. Sim estão enganando as gestantes camuflando ou distorcendo a realidade.

Tratamento sem humanismo

Na maternidade as mães são tratadas como algo sem importância. Ia falar como bicho, mas os pets são melhor tratados. Os protocolos passam por cima do respeito aos valores humanos. Processos dolorosos e desnecessários para mãe e bebê são comuns. Mães são xingadas antes, durante e após o trabalho de parto.

O bebê

O bebê é colocado em uma vitrine minutos após o nascimento como uma atração.
Ele fica sozinho, cheio de equipamento e profissionais, mas sozinho em acalento, em carinho, em aconchego.
“Ah, mas ele está no bercinho aquecido” – É assim que fazem com os pintos não é?
“O pai tá junto” – Intimidado no meio daqueles equipamentos e jalecos brancos frios. Não podem dar colinho e, principalmente, não podem dar o peito, minha gente. E para um recém nascido, peito é tudo.
“A mãe pega o bebê logo ao nascer” – Sim, ela pega por uns 2 minutos toda grogue da anestesia e sem conseguir se mexer. Ela tira a foto para o álbum e logo ele lhe é tirado para o “bem de todos”. Quem bem é esse que tira o recém nascido de perto da mãe? Nem os bichos fazem isso.

Meu bebê levou mais de 4 horas para ser colocado no meu colo na maternidade. E isso que estávamos saudáveis e o parto não teve problema algum.

Aposto que você ficaria irritado de esperar 5 minutos na fila, ou quando o médico do consultório atrasa 30 minutos ou uma hora sua consulta. Irrita né? Agora imagina um bebê sozinho num berço frio de acalento. Sem saber o que acontece pois toda sua referência de aconchego que é a mãe, e no máximo, a voz do pai, está distante?

A puérpera

Imagina uma mãe, puérpera, que por 9 meses sonhou com seu bebê. Rezou pedindo para acolher uma alma especial. Se comprometeu a fazer seu melhor por essa alma. Cuida de uma barriga sem sequer ver de quem está cuidando. E, quando o encontro acontece, esse bebê frágil lhe é dado por 2 minutos e lhe é tirado dos braços para fica 4 horas ou 6 horas longe . Ela fica sozinha, numa sala de recuperação que apesar de climatizada é fria, fria de amor, fria de acalento.

O parto é uma das experiências mais profundas e marcantes para uma mulher, se não a mais marcante. E deixamos que ela passe por isso sem aconchego, sem falar de sentimentos, sem clima nenhum. Não deixamos nem que grite (sim, porque se você grita na obstetria te xingam, te chamam de fiasquenta, fraca ou olham com olho torno).

Sequelas invisíveis da falta de respeito à maternagem

Isso gera sequelas, não físicas, mas humanas. Estamos sufocando uma experiência profunda e importante e tudo que é sufocado gera feridas e cicatrizes.

A mãe é a última a saber o peso, a altura, o cheiro de seu bebê.
Quem se importa realmente, de coração, com a saúde da mãe? Talvez o marido e seus pais, se não estiverem ensurdecidos com a transformação em pai e avós (mas podemos perdoá-los por isso neste momento).
Alguém lembra da mãe que sofreu por horas uma experiência profunda, dolorosa e duradoura se for o parto normal e uma cirurgia invasiva se fez cesárea? Quem realmente se preocupa?
Nem se quer damos oi olhando os olhos da a mãe antes de tocar ou pegar seu bebezinho.

Será que pensam no que sente, pensa, reflete e vive essa puérpera? Mas é essa pessoa de pouca importância que vai formar o futuro do país.

Já temos muitas bandeiras, já temos muitas lutas, mas ainda falta tecermos a grande bandeira da humanização do nascimento, do respeito pela primeira infância, pois essa bandeira bem erguida poderá hastear com louvor todas as outras. Que aprendamos a respeitar nossas crianças e a oferecer condições à maternagem. É preciso aderir a luta pelo respeito à maternagem

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.