Como evitar o barulho das crianças na quarentena

Como se não bastasse os problemas globais que estamos vivendo em 2020 e nossos dramas pessoais, ainda temos que conviver com os vizinhos reclamando do barulho das crianças. É muito angustiante quando recebemos uma reclamação porque é uma situação sem soluções a curto prazo.

O barulho das crianças é natural

Primeiro ponto a ter clareza é que o barulho das crianças é inevitável. Criança saudável gera ruídos, muitos, diferentes e altos.

O bebê

A forma de comunicar dos bebês é o choro que vai ficando mais forte conforme eles crescem. Ao nascer o choro mostra que está tudo bem, são os pulmões enchendo-se de ar, tanto que, antigamente, o pediatra dava um tapa para o bebê chorar (prática que não acontece mais).

Chorar é sobrevivência, comunicação, a principal forma do bebê demonstrar que precisa de algo.

A criança

Crianças pequenas choram muito. É através do choro que elas demonstram emoções, frustração, dor e necessidades. Na primeira infância, que dura até os sete anos, o choro segue sendo a principal forma de comunicação.

Uma criança aprende a falar por volta dos 3 anos. Seu contato com as emoções inicia aos 2 anos e levamos a vida inteira para aprender a lidar com elas. Na primeira infância a forma de expressão da criança é barulhenta.

Os gritos fazem parte da vida da criança. Elas gritam de alegria, de tristeza, de frustração, de raiva, de medo. Trata-se da manifestação de sua natureza. Tem as que choram ou gritam mais enquanto outras nem tanto. Mas todas gritam.

Ao barulho das crianças soma-se o barulho dos pais

Gente, os pais são estressados e também fazem barulho. Na forma como vivemos não favorecemos a saúde dos pais, o que faz com que eles não saibam lidar com suas crianças e seus barulhos, desafios, bagunças, problemas econômicos, pressão do trabalho, medo do desemprego, etc. Nossa estrutura de vida não promove famílias saudáveis.

É difícil educar

Sendo assim, os pais tem muita dificuldade para educar seus filhos por falta de apoio em todos os sentidos. Falta de rede de apoio pessoal, falta apoio do estado, falta educação. Falta tudo. Há um problema de sobrecarga de responsabilidades nas mães, um número absurdo de mães solteiras e mães casadas cujos maridos não dão o menor suporte. Além de um descaso total com o puerpério. Minhas pesquisas me fazem ver que a situação da primeira infância no Brasil é muito grave.

Então, pais gritam e não é porque são maus, mas porque estão numa pressão emocional violenta que se soma aos muitos problemas sociais que vivemos. A culpa não é só dos pais, mas da forma doentia que decidimos viver.

Se você não suporta barulho de criança: não more perto delas.

Uma pessoa pode ter muita sensibilidade ao barulho das crianças. Sabemos que cada pessoa tem suas características, histórias de vida, fragilidades, chatices que precisam ser respeitadas. Porém, se barulho de crianças é seu ponto fraco, não fique perto delas, porque você ficará doente e deixará os pais ainda mais barulhentos.

Reclamar piora

O fenômeno é o seguinte: A criança esta fazendo barulho. O vizinho vai lá reclamar. O pai xinga e briga com o filho para ele ser silencioso. Então ela fica braba e grita, o pai, que não tem controle algum sobre as emoções do filho, porque não temos como controlar a emoção do outro, grita mais alto. E o vizinho fica em seu canto remoendo a raiva e promovendo a discórdia.

Como não são as crianças que pagam a multa do condomínio, podem multar todo mês que não vai adiantar. O que acaba acontecendo são os pais passar a adotar medidas punitivas e violentas que podem garantir o silêncio poucas vezes e gerar traumas para a vida toda. Castigo, chinelada, palmada, ameaças, chantagem e outros recursos desesperados que apelamos quando somos obrigados a silenciar a criança. E eles não são positivos.

Seja estratégico

Assim sendo, se você não consegue conviver com crianças, seja estratégico. Busque morar no último andar, em prédios sem pracinha e espaço livre, pois tendem a ter menos famílias com crianças. Prefira casa ao invés de apartamento e invista em isolamento acústico do seu imóvel. Resolva o seu problema ao invés de reclamar.

Lembramos também que nossas cidades não são amigáveis às crianças. Temos elevado número de apartamentos minúsculos e sem estrutura ao ar livre para que crianças gastem energia. Os condomínios tem infinitas regras para controlar as crianças. Um exemplo é a piscina. Criança na água grita de felicidade. Piscina reúne muitas crianças. Sim, se tem piscina será barulhento. Se você não gosta de ruído, evite condomínio com piscina.

Criança barulhenta não é criança sem educação

Sabemos que muitos pais não sabem educar seus filhos por que não são ensinados a isso. E ninguém nasce sabendo. Nós estudamos para tudo, menos para ser pais. A história da educação é marcada por violência, descaso e ignorância há séculos. Não se trata de falta de amor e esforço, mas falta de conhecimento sobre a natureza humana e da criança para poder ajudá-las no seu desenvolvimento.

Criança educada faz barulho

O fato é que mesmo crianças educadas são barulhentas. Porque elas expressam suas emoções e necessidades através do barulho.

Aí, aquela pessoa que não tem filho diz: “Ah, mas os pais tem que ensinar elas a não pedir gritando”. Concordo. Mas levamos anos para conseguir que elas entendam quando podem gritar e quando não.

Levamos anos para educar

Para uma criança não ficar pulando em volta do pai quando este atende o telefone ela precisa dominar a curiosidade e a ansiedade em saber quem está do outro lado da linha. Também precisa controlar sua necessidade de atenção e carência em dividir o pai com o outro. Ela precisa ter maturidade para aceitar ser abruptamente interrompida em seu momento com os pais, que é a coisa mais importante para a criança.

Sabe quando você está no bar, no maior papo com aquele seu amigão, e o telefone dele toca? E ele atende? Você não gosta né? Faz aquela cara de paisagem, mas fica disfarçando a decepção. Quantos anos você tem? Se você adulto, ou jovem adulto, não tem condições de lidar com isso, imagina uma criança?

Propriedade

Falo com propriedade sobre isso pois sempre busco ensinar boas maneiras aos meus filhos. Agradecer, pedir desculpas, respeitar. Perceber suas emoções e lidar com elas com inteligência. Com 4 anos um deles já pede desculpas por iniciativa própria de vez em quando. Porque sim, poderia obrigá-lo a pedir desculpas por ameaça. Porém isso seria uma farsa. Depois de 4 anos de ensinamento ele ainda tem gritos verdadeiros quando sente raiva e graças a isso conseguimos identificar o sentimento e trabalhar formas de amenizar consequências violentas. E gente, que bom que ele expressa raiva com gritos, assim conseguimos lhe ajudar a lidar com o sentimento.

Então você adulto maduro, dirige seu carro quando alguém faz uma manobra que te ofende. Você buzina, abre a janela e xinga, acelera e corta a frente do cara. A menor das reações é o sangue subir e dar aquela acelerada no coração. Então, nós também somos barulhentos ao lidar com nossas emoções. Sendo assim, não temos moral para reclamar do barulho das crianças.

Barulho e desenvolvimento físico

A criança também faz barulho para caminhar, elas correm e pulam. Sim, isso é fundamental para seu desenvolvimento motor. O primeiro passo para o caminhar ereto do homem é quando ele começa a desenvolver a musculatura do pescoço para sustentar a cabeça, lá nos primeiros meses.

Depois o controle dos braços, o girar no chão, o elevar o quadril e a força nos braços para sustentar o engatinhar. Finalmente o engatinhar e o conseguir ficar em pé apoiado. Aí todo o mundo que era visto na horizontal se verticaliza.

Ele começa a dominar a lateralidade e os passos. Então dá seus primeiros 2 passinhos e cai sentado. Uma perfeição de movimentos pra que o bebê não se machuque ao aprender a caminhar. Aí por uns cinco meses ele só desenvolve o equilíbrio. Então precisa tocar com força e firmeza o solo para se desenvolver. Depois ele corre porque é um poço de energia vital. E pula muito para fortalecer suas musculaturas que precisarão carregar seu cérebro e inteligência até a velhice.

Como reduzir o barulho das crianças

Dadas as premissas, vamos as dicas.

Apoderamento

Escrevi um monte ali em cima para que você tenha segurança em afirmar que crianças fazem barulho sim. É normal. Não se culpe. O problema não é de sua criança, mas do adulto que reclama. Sim, podemos exigir que um adulto tenha respeito no quesito barulho, embora muitos não o tenham. Porém não podemos exigir que a criança não faça barulho. Apodere-se e lembre sempre: sim, fazem barulho porque são crianças. É natural.

É importante você ter consciência da fase evolutiva de seu filho para exigir dele coisas coerentes com a etapa. Podemos em alguns casos ensinar ou solicitar silêncio, mas provavelmente eles não terão maturidade para gerenciar isso de forma saudável.

Busque respeitar os horários de silêncio

Saiba os horários de silêncio do local onde você mora e busque respeitar ao máximo. Explique sempre isso para seus filhos. “Crianças, não podemos fazer barulho agora porque é horário de silêncio. Os outros estão dormindo.” Junto da explicação trabalhe o redirecionamento da atividade deles para algo mais calma.

Eu trabalho três regras com os meus: 1- não podemos nos colocar em risco. 2 – não podemos machucar nenhum ser vivo. 3 – não podemos destruir o ambiente em que vivemos. Na regra dois temos o respeito aos vizinhos que são seres vivos (nem todos).

Assim, ao pedir silêncio você vai estar justificando o motivo e aos poucos eles vão aprender. Claro que não vai funcionar na questão de choro. Meu filho sempre diz: “Não consigo chorar baixo”. Mas você pode usar técnicas como gritar no travesseiro, que pelo menos abafa o barulho na madrugada.

Use estratégias

  • Nos horários críticos, como a noite, procure promover atividades mais calmas. Ler história, ouvir música, jogos de tabuleiro, desenho, pintura. Atividades que são mais introspectivas. Durante o dia, quando a maioria das pessoas estão fora de casa, garanta minutos de barulho com atividades mais agitadas.
  • Quando perceber que a criança começou a exagerar no barulho, conduza a uma mudança de atividade ou vá brincar na rua se for viável.
  • Se as crianças falam muito alto, em momentos de euforia, comece a falar bem baixo, assim elas farão silêncio para te ouvir. Brinque com o tom das vozes em diversos momentos, assim elas vão aprender a se relacionar com falar alto, gritar, cochichar.
  • Faça combinados: vamos brincar disso (que faz barulho) apenas 10 minutos para não incomodar os vizinhos, depois iremos procurar outra atividade.
  • Use tapetes para reduzir barulho no chão. Coloque colchões para que elas pulem, assim reduz o ruído para o apartamento de baixo.
  • Crie espaços para brincar com cada coisa, se um brinquedo faz muito barulho, não os deixe usar nos quartos, mas na sala ou sacada. Se eles arrastam coisas (bebês amam arrastar banquinhos de madeira) coloque feltro colado os pés dos bancos para reduzir ruídos.
  • Se você perde muito a paciência e acaba gritando muito, lembre que está tudo bem. Faz parte. Aceite-se e busque entender o que te faz perder a paciência. Assim você consegue buscar ajuda e formas de minimizar seus gritos. Hoje já temos acesso a bastante coisas sobre desenvolvimento infantil e formas de lidar com as crianças para qualificar a relação adulto/criança, diminuindo conflitos. Nas minhas mídias sociais eu comento bastante sobre isso, então dê um follow!

Respeite e exija respeito

Busque fazer seu melhor para que os ruídos sejam coerentes e respeitem o bem estar de todos. Respeite seus vizinhos, mas respeite a si e principalmente a natureza das crianças que precisam do barulho para se desenvolver com saúde e qualidade.

Enfim, espero ter ajudado um pouco nesta questão.

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