Comportamento: Pequenas ações, grandes impactos

E aí, gostou do trocadilho? Pois é, estou tentando fazer um pouco de graça antes de contar essa história  sobre o gatilho de um comportamento do Ben e como avaliamos para achar uma solução.

Cenário:
Ben quase completando 3 anos e Flora com 6 meses.

Em uma manhã, Ben demonstrou um comportamento diferente. Popularmente chamam de mau comportamento. Aqui em casa considero um “comportamento de atenção”. Nestas situações procuro observar o que está acontecendo e refletir sobre o que ocasionou. Esse é um exercício bom para fazer em relação aos filhos, mas também em nós mesmos.

Ele estava com a babá e começou a jogar bola na sala. Ela o alertou que não deveria chutá-la neste local. Como ele continuou, interferi lembrando-o da regra pré-estabelecida que só se joga bola no quarto ou no corredor, porque na sala tem coisas que quebram. Ele diz que quer jogar na sala, então eu proponho que ele role a bola no chão, porque desta forma não estraga nada. Ele, por sua vez não aceitou. Insistiu em jogar na sala enquanto eu propunha outras opções válidas, sempre com gentileza. Em determinado momento ele chutou forte a bola e eu disse que se ele não respeitar o combinado (bola na sala ou corredor) teria que que guardar a bola. Como não chutou mais, não guardei. O lance aqui não é castigo, mas atribuir causa e consequência junto com senso de responsabilidade.

Choro compulsivo

Neste momento, ele começou a chorar compulsivamente e correu para o escritório onde o pai estava trabalhando (home office).

O pai acolheu, colocou-o no colo e perguntou o que aconteceu. Ele explicou e o pai escutou e reforçou o combinado quanto aos locais de bola, explicando também o motivo. Ben ainda queria jogar na sala e argumentou que no corredor era ruim. Uma manifestação de “teimosia”. Propusemos algumas atividades, fomos novamente até a sala, sugerimos que fizesse uma goleira no corredor, abraçamos e acolhemos seu choro e sua manifestação de necessidade sem julgar ou xingar. Acolhemos sua frustração e seu “teste” em burlar a regra. Neste momento, já tínhamos percebido que ele estava querendo chamar atenção através do mal comportamento.

Enquanto o pai lhe dava colo, eu procurava algo para propor e desviar o foco da crise emocional. Então, ofereci semente de girassol, um lanche que há tempo ele não comia. Neste momento, percebi que a crise cessou. Aceitou as sementes, pediu para levar mais para a babá e voltou a brincar normalmente.

Reflexório

Refletindo sobre a situação, percebi que ele estava nitidamente querendo chamar atenção, porque ele dificilmente nega ir brincar com a bola no quarto. Também percebi que estava testando se iríamos o acolher, mesmo ele teimando. E, depois de convencido que estava acolhido e seguro, apesar de sua atitude, o comportamento foi embora, sem deixar vestígios.

O gatilho

Comecei a pensar o que teria levado-o a tal atitude e lembrei que, pela manhã, meu marido tinha deixado a Flora (então com 6 meses) um pouco na cama do Ben. Ele a levou para dar bom dia, e a deitou ali com ele para brincarem. Era a segunda manhã que isso acontecia. Na primeira eu estava acompanhando e vi que uma hora Ben saiu dizendo estar bravo com a Flora. E na manhã do ocorrido, ele estava empurrando ela levemente com os pés.

Conclusão

Minha conclusão é que estávamos colocando a Flora no território de segurança do Ben. Sua cama é seu canto. Tanto que quando está jururu ou precisa se acalmar ele corre para a cama. E que colocar a irmã ali era roubar seu espaço, entrar em sua cápsula de segurança que já estava rompida em outros aspectos com a chegada da irmã. Ele perdeu alguns espaços e estávamos fazendo a irmã tomar este também. Paramos imediatamente com essa atitude e a paz voltou a reinar.

Uma atitude pequena nossa pode ter um impacto perturbador em nossas crianças e elas não saberão mostrar isso na hora, de forma racional. A repercussão é o comportamento que chamamos de inadequado, mas que representa que algo não está bem.

Impacto em nós

E isso acontece muitas vezes conosco enquanto adultos. Quantas vezes engolimos sapos e cuspimos em outras situações? Nos estressamos no trabalho e brigamos com o companheiro. Temos um dia cheio e explodimos com as crianças? Estamos infelizes com alguma situação e xingamos alguém nas redes sociais. Saímos atrasados e buzinamos sem razão no trânsito. Nós temos maus comportamentos por questões que não resolvemos bem, nossas crianças são como nós, mas não tem ferramentas e maturidade para lidar com essas situações.

Como promover a cura?
Olhando o que nos faz sermos maus e buscando corrigir a causa.
Primeiro identificando as atitudes onde somos maus. Quando somos grosseiros, intolerantes, agressivos, chateados, deprimidos, ansiosos. Porque identificando essas atitudes teremos o alerta de que algo está errado. Soando o alerta, podemos refletir sobre o que gerou a atitude negativa. Identificando o que gerou temos alguma chance de ir atrás da cura.

Se é fácil?
Acho que não, envolve vontade e treino, pois na maioria das vezes não percebemos que estamos agindo inadequadamente. Às vezes até nos alertam, mas ficamos ofendidos e culpamos o outro.
Então só com reflexão sobre como agimos que vamos conseguir compreender o motivo que nos levou à atitude e então poderemos trabalhar para a cura. Isso pode levar anos, então, sem ansiedade, apenas comece!

Usei tanto mal, mau, bem, Ben, bom que posso ter me perdido em algum. Até saiu um “emociomal” no meio do texto, tamanho embrulho silábico.

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