Maternidade real – De Maria a Madalena em 24h

Essa é uma reflexão que beirou muito minha cabeça e fala sobre a maternidade real, sem fantasias. Maria, a Virgem, imaculada, portadora de vida. Toda gestante é meio Maria. São sagradas criaturas portadoras da vida, cuidadas, bajuladas, acompanhadas nas ruas com sorrisos ternos até de estranhos.

Madona e o menino
Madona e o Menino”Giovanni Bellini
Pintor renascentista italiano (1430-1510)

Mas aí, um dia dão a luz, e o que fica é um bebê imaculado e terno e uma mãe, não mais Maria. Surge, então, uma Madalena. Bem vinda a maternidade real.

A culpa é sempre das mães. 

Quando são mães de primeira viagem são coitadas que nada sabem. Todos julgam saber mais do bebê alheio que a mãe. Sabem quando o bebê sente frio, fome, ou dor de barriga ou quando estão apenas fazendo manha e as manipulando.

Quando são mães de mais filhos, seguem os olhares tortos, ou por terem filhos demais ou por qualquer outra crítica, cabível ou não.
Assim que os bebês crescem e perdem a fofura transformam-se em crianças que falam alto, correm, gritam, não dão oi, tchau, beijo. Que mexem em tudo, fazem manha, tem birra e dão piti. O normal de crianças saudáveis, mas elas são rotuladas como mal educadas. E a culpa de tudo isso é atribuída à mãe. Bem vinda a maternidade real

Parece radicalismo?

Pode parecer um pouco radical e você pode até pensar que não é bem assim. Mas se parar e refletir, vai perceber que há sim julgamento e hostilidade com as mães, ainda que sutil.

A magia de gerar uma criança não acaba no parto, ela segue durante o resto da vida, pois não basta parir, é preciso apoiar, dar segurança, educar. A mulher que decide ser mãe seguirá fazendo o melhor que pode para criar seu filho. Nunca será perfeita, nem fará tudo certo, mas fará o melhor que puder naquele momento.

Não é compreensível como nossa cultura acha que a magia está numa barriga e não incrustada na alma dessas mulheres que doam seu corpo, seus seios, suas noites, sua carreira, sua identidade para criar um novo ser humano e cujo papel realmente começa quando esse bebê sai do ventre.

Maria Madalena em Penitência
“Maria Madalena em Penitência” –
Bartolomé Esteban Murillo

Enquanto gestamos, o corpo e a natureza fazem praticamente todo o serviço. A nós cabem os cuidados básicos de saúde e empenho para uma boa qualidade emocional e psíquica.

O trabalho começa depois do nascimento

Quando o bebê nasce começa o árduo trabalho que requer apoio, compreensão, ajuda, respeito, empatia de toda sociedade. Isso significa não ser palpiteiro, crítico ou juiz. Significa seguir respeitando a vida que custodia essas pequenas vidas que começam sua jornada.
Hoje lutamos pelos direitos das minorias (ou nem tão minorias), mas esquecemos de valorizar as mães que seguem sozinhas (mesmo quando acompanhadas), incompreendidas, caladas e sobrecarregadas de tarefas.

Mães são uma classe sozinha. Marginalizada que custodiam o mundo melhor de amanhã. Se quisermos um mundo melhor precisamos respeitá-las e cuidá-las.

O segredo do mundo melhor é a educação. As mães são protagonistas da educação da primeira infância. Se não dermos a elas valor e condições físicas e emocionais para fazerem seu trabalho, não adiantara orar à Virgem Maria pelos adultos problemáticos que nos aguardam no futuro.
Convido você a refletir e falar sobre este tema. Se tem filho ainda na primeira infância e sente-se hostilizada, fale com quem está próximo, manifeste-se.
Se tem filhos maiores, busque o exercício de não julgar as outras mães e a forma como criam ou criaram seus filhos. Seja solidária e busque olhar com amor suas escolhas, suas dificuldades, etc.
Se você não é mãe, converse com a sua, valorize os sacrifícios dela e busque conhecer o que ela abriu mão para lhe educar. Quem sabe até ajudá-la a resgatar sua identidade que foi completamente transformada quando você nasceu. Também exercite olhar para as mães e considerar suas necessidades, seu valor, sua generosidade e importância na sociedade.
Compartilhe sua experiência conosco aqui embaixo!

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