Quando meu filho Ben estava com 2 anos, em uma tarde saí com ele para ir em uma loja.

Chegamos na loja e ele pegou um cartão de visitas no balcão e ficou brincando com aquilo encantado. Chamou de “meu cartãozinho”.

Quando saímos ele levou o cartãozinho junto. Depois fomos fazer um lanche na padaria que tinha ao lado. Entramos na padaria, comprei pães, pedi um lanche e lanchamos em uma mesa bem tranquilos.

Quando saímos ele deixou o cartãozinho na mesa e eu perguntei:

–  Ben, posso por fora o cartãozinho?
Ele respondeu que sim. Então deixei na mesa e saímos.

Entramos no carro e saímos. De repente ele começou a se mexer na cadeirinha e pedir pelo cartãozinho. Respondi que tinha ficado na padaria. Ele então passou a chorar desesperadamente. Expliquei (dirigindo) que ele tinha dito que não queria, que era só um cartãozinho e eu poderia lhe dar outro em casa, mas nada o consolou.

Então expliquei que iríamos tentar resgatar o cartão. Dei a volta na quadra, estacionei novamente e fomos até a padaria correndo. Por sorte, a mesa que usamos ainda estava intacta e o cartão paradinho no cantinho da mesa. Peguei o cartão e lhe entreguei. O choro cessou e um semblante de alívio assumiu sua face. Tudo voltou ao normal.

Moral da história

As vezes as crianças pequenas supervalorizam alguns objetos, alguns por pequenos momentos, outros por longos períodos. Para nós é um objeto qualquer, sem valor, mas para a criança é algo importante. Não descobri ainda a explicação para essas atribuições, mas elas acontecem seguidamente. 
O que temos que ficar atentos é para não quebrar essa relação e respeitar a criança e seu objeto. Deixar que ela pegue e se relacione com essas coisas e não subestimar o valor. É comum eles pegarem folhas, gravetos e coisas da natureza e isso faz parte de seu desenvolvimento.
Não trata-se de apego material e você não precisa dar lição de moral nem dizer que aquilo não tem importância. Trata-se de uma manifestação emocional da criança que deve ser acolhida e respeitada. Sim, tem importância para a criança.

Tem adultos que não perdem o jogo de futebol do seu time por nada no mundo, outras que não passam uma semana sem manicure, outras tem objetos de estimação, ou bichos que tratam como gente. E sempre respeitamos (deveríamos pelo menos) essas pessoas e seus apegos. Mas quando tratam-se de crianças julgamos e desvalorizamos.

Faça o exercício de observar que o que não tem importância para você pode ser importante para outro ser humano. Desta forma é possível aprender a parar de julgar e comparar as pessoas. Cada uma tem uma história. Coisas bobas para nós podem ser importantes para os outros. 

Sobre minha história, há quem diga que eu não deveria ter voltado, que não devia ter pego o cartãozinho, que ele estaria me manipulando ou testando. Não acredito nisso. Uma criança de dois anos não tem a maturidade suficiente para manipular ou testar de forma maldosa. Ela está buscando entender o mundo a partir de observações, de ações e consequências. Na perspectiva dela, seu problema era real e foi possível o resolvermos juntos. A aprendizagem está na relação dele com as emoções que sentiu e no alívio de ter resolvido seu problema. Isto basta para aquele momento. Não é preciso castigá-lo por ter esquecido o objeto visto que ele não tem maturidade para este nível de senso de responsabilidade. Nem torturá-lo não buscando o objeto que pode ser buscado.

Devemos cobrar e incentivar as coisas na medida da capacidade da criança para o momento. O ensinamento deve acontecer no dia a dia e não nos momentos de crise.

Há sempre uma aprendizagem por trás das ações das crianças, algo está despertando e por isso precisa ser respeitado, acolhido e compreendido por nós. Se não sabemos a explicação podemos observar além do resultado, observar a causa daquilo. Buscar ver o que está sendo desenvolvido naquele momento, olhar pelos olhos da criança. Assim percebemos que o que parece manipulação é sua forma de aprender como o mundo funciona e se integrar nele.

Claro que se for muito difícil ou impossível buscar o objeto cabe explicar isso com poucas palavras e acolher o sentimento da criança, seu pequeno luto com compreensão, empatia e amor.

E você, teve alguma experiência parecida? Como lidou? Compartilhe aqui nos comentários!

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