Despertando pais conscientes | Grupo de estudos 19-08-2020
Resumo do primeiro encontro do grupo de estudos Despertando pais conscientes. Conversa baseada no livro Por que gritamos? Da Elisama Santos.
Cenário atual: Os desafios da pandemia de 2020 .
Os desafios impostos pela pandemia obrigaram as mães e famílias a lidarem com uma nova rotina muito mais estressante. No Brasil as restrições já acontecem há seis meses. Na Alemanha neste mês as escolas voltaram a funcionar, mas a sombra do aumento dos casos trouxe novo estado de alerta. Desta forma, o livro escolhido se enquadra ao cenário, pois trata mais sobre a relação do adulto consigo mesmo, sendo uma ferramenta que pode ajudar a mantermos a saúde em um momento de desafio como o atual.
É neste cenário que começamos as reflexões do grupo de estudo em busca de nos tornarmos pais conscientes.
A busca por uma relação familiar mais harmônica
O interesse principal das participantes é encontrar uma forma mais harmônica de se relacionar com a família, levando em consideração formas mais respeitosas e menos violentas de tratar as crianças e aos adultos.
A busca do equilíbrio foi um tópico recorrente da conversa. Tanto em buscar o equilíbrio emocional nas relações quanto o equilíbrio nas ações e práticas.
Falou-se na quantidade de informações e principalmente no excesso de jeito certo de lidar com as crianças. Há muita informação de como devemos agir e, na maioria das vezes, não conseguimos chegar nesta “forma equilibrada” de cuidar dos filhos. O que nos gera frustração e culpa.
Uma de nossas conclusões foi que precisamos buscar o nosso jeito, a forma que se adapte as características e expectativas de nossa família e não atender o que os livros ou os outros dizem. Percebe-se a necessidade de empoderamento e resgate da identidade para ter segurança em aprender e executar sem culpa.
Percebemos também que o estar em equilíbrio não é um ponto estático, um jeito certo, mas sim um movimento de buscar sempre o centro. O equilíbrio depende do desequilíbrio para existir. Não é um ponto de chegada, mas um caminho constante. E perceber essa dinâmica nos ajuda a eliminar a ansiedade de um dia chegar a ser equilibrado nas relações, nos poupa deste fardo. E nos livra da culpa pelas vezes que não estamos no centro. O que vale é o esforço de estar próximo a ele e, mais ainda, a perseverança para voltar ao centro, apesar dos escorregões. Não devemos buscar a perfeição, mas sim sermos suficientemente bons.
Tendências e crenças limitantes que atrapalham o despertar de pais conscientes
Padrões repetidos
Reforçamos a constatação que há uma tendência muito forte de repetirmos instintivamente a forma como fomos criados. Desta forma, o despertar da consciência é a ferramenta que vai ajudar a perceber e mudar os padrões de educação que consideramos inadequados. Apenas parte destes padrões são conscientes, a maioria repetimos sem nem perceber. Por isso é tão importante o trabalho de auto-conhecimento, para ir trazendo para o consciente velhos hábitos.
Conhecer a história
Conversamos sobre o valor de conhecer a nossa história, como um suporte para o auto-conhecimento. Essa avaliação do passado nos permite entender de onde vem nossas fragilidades e também nossas potencialidades. Salientamos que este resgate não deve servir para reforçar um papel de vitimização, mas sim de compreensão. Sendo assim, enxergando as fragilidades poderemos identificar como superá-las. Surgiu também um alerta muito coerente de lembrar sempre do que aprendemos durante a nossa infância de positivo e do fato que mesmo situações negativas nos ensinaram algo.
Aceitar que erramos e estamos em formação
Aceitar que somos humanos, temos limitações e erramos e que isto é natural. Diante desta constatação, desenvolver a habilidade de perceber o erro como uma forma de aprendizagem e evolução.
Culpa
No diálogo uma das crenças limitantes que surgiu foi a culpa, cujo propósito é aprisionar e impedir o desenvolvimento pessoal. Enquanto estamos nos sentindo culpados não conseguimos enxergar soluções aos problemas, é uma espécie de “cegueira” em nossas vidas.
O que os outros vão pensar
A preocupação exagerada com o que os outros vão pensar também foi lembrada. Trata-se de nossa tendência em responder muito às expectativas dos outros, o que também nos aprisiona. Ao nos preocuparmos com o que o outro está pensando sobre nós, ou a situação que estamos vivendo, damos margens para o surgimento de emoções como medo e insegurança, que são paralisantes. Assim, fica mais difícil de agir de forma consciente, pois o medo, a sensação de acusação, também nos leva a reagir instintivamente, como a criança faz em suas crises emocionais. Deixamos de usar o cérebro racional para usar o cérebro reptiliano – um módulo de sobrevivência a qualquer custo.
As ferramentas de superação para o despertar de pais conscientes
Resgate de identidade
O exercício de busca da identidade própria, de nos despirmos do que falavam que devíamos ser e agir é uma das ferramentas para essa restauração da nossa autenticidade. Percebemos uma diferença cultural bastante significativa entre Berlim e Brasil. Em Berlim há uma cobrança forte em seguir as regras quem impactam na convivência coletiva, respeitando-as você pode ser o que você quiser. No Brasil há uma cultura mais forte quanto ao que os outros vão pensar e pouco valor em respeitar o coletivo. Essa tendência impacta fortemente em um desenvolvimento imaturo de nossa identidade.
Acolhimento
Uma ferramenta de superação é o acolhimento de quem somos e do que sentimos. Primeiro enxergar nossas sombras e tirá-las do esconderijo. Aceitar que elas existem e que não há nada de errado nisso. Tê-las como aliadas no processo de desenvolvimento, pois não somos as sombras, elas apenas fazem parte de nossos desafios e nos ajudam a impulsionar nossas potencialidades e virtudes. Romper com a tendência limitante de focar no que não somos bons e olhar para o que temos de positivo. Isso nos dá a liberdade de crescer continuamente. E quando vivemos esta mudança de olhar, já vamos ensinar as crianças a viverem assim também. Estaremos dando uma espécie de alforria à nós e aos nossos filhos. Este é o processo de acolher quem somos na integridade.
Olhar para nossas emoções
Permitir-se sentir medo, tristeza, frustração, alegria, orgulho, ciúmes, inveja. Olhar com clareza e acolhimento para essas emoções ao invés de escondê-las, ao contrário do que dizem, nos torna mais fortes e plenos.
O que nos faz humanos é justamente essa dualidade de emoções, caso elas não existissem seríamos semi-deuses. Fomos educados a esconder sentimentos. Chorar nos faz fracos, sentir inveja ou raiva nos faz ruins. Então, ao invés de aprender com a raiva, nós a escondemos e ou somatizamos em doenças físicas.
Quando nos convencemos que somos ruins por termos sentimentos ruins, deixamos de buscar o bom em nós. Nos limitamos a fantasia de que não somos bons ao invés de ver as emoções como um impulso para melhorarmos. O movimento contrário é a visão de que cada situação nos ajuda a aprender: A raiva nos ensina a procurar qual necessidade não nos esta sendo atendida. A inveja a melhorarmos para conquistar o que invejamos. Chorar é a forma de liberar tensões que naturalmente se acumulam assim teremos mais espaço para viver.
Romper com rótulos
Há também o processo de romper com o que dizem que nós somos, que são os rótulos e as limitações que outros nos impões e que podemos escolher aceitar ou não. Claro que quando elas acontecem na infância e juventude, momentos de imaturidade e fragilidade devido ao longo tempo no desenvolvimento do ser humano, essas imposições limitadoras são avassaladoras para o desenvolvimento da identidade pessoal. Precisamos criar um processo de libertação desses rótulos, buscando enxergar o que somos para além deles, e como consequência, ensinar nossas crianças a não ficarem presas nos rótulos que nós damos e a sociedade impõe.
Firmeza não é violência
Tendemos a migrar entre permissividade e autoridade e não aprendemos a estar no caminho do meio onde a firmeza existe desacompanhada da violência. Ao falar de alguns exemplos, identificamos que muitas vezes nos sentimos culpados por sermos frágeis ou rudes. Porém, enquanto fixados na culpa não conseguimos enxergar o que nos deixou frágil e que precisamos curar. E também precisamos entender e aceitar que muitas vezes precisamos ser firmes, para conter o que não é adequado. A firmeza é fundamental no processo de educação, das crianças e nosso. E firmeza não implica em violência ou brutalidade. Assim, identificando e curando nossas fragilidades conseguiremos ir desenvolvendo as atitudes para que sejam menos rudes e violentas para serem firmes e justas.
Conceito de conhecimento e despertar da consciência.
O assunto de despertar da consciência nos levou a uma conceitualização sobre o processo de desenvolve-la. Este envolve a teoria do conhecimento, no caso usamos a vertente trazida por Platão. Nesta a busca da sabedoria envolve três níveis, ou degraus.
O primeiro é a ignorância onde simplesmente agimos sem usar de nenhuma inteligência. Seguimos o que todos fazem sem avaliar se é coerente, justo, bom.
O segundo estágio é quando quando começamos a usar a inteligência e buscar informações sobre as coisas. Nesta fase usamos o conhecimento de outras pessoas para nos guiarmos.
No terceiro degrau, que é onde começa o despertar da consciência e a busca da sabedoria, passamos a refletir sobre o conhecimento e colocá-lo em prática, testar, avaliar esforço e resultado. Com isso o conhecimento que estava fora, passa a ser internalizado e os assumimos como parte de nós. Desta forma, passamos a viver com mais sabedoria.
Junto deste processo desenvolvemos as virtudes do discernimento, conquistamos o bom senso, o senso de justiça e colaboração. Enfim, os requisitos para uma vida fraterna e respeitosa.
No último estágio vamos ter condições de fazer as escolhas com clareza levando em conta as variações que existem nas vidas o que será mais justo com todos.
´O propósito do estudo a partir do diálogo
Neste processo se encontra o propósito do grupo: buscar a informação e trazê-la para o diálogo construtivo, tornando-a conhecimento.
Uma excelente ferramenta para aprofundar o entendimento e construir o conhecimento com base na experiência de várias pessoas, que por vezes vão reforçar o que pensávamos, mas em outros momentos vão trazer outra forma de ver. O que é altamente produtivo na busca da sabedoria e despertar da consciência. Como resultado deste exercício conjunto está o desafio de colocar em prática o que vai sendo estudado, reduzindo o vão que fica entre o que lemos nos livros e a forma que vivemos em nossas casas.
Conclusão
No fim do encontro nos ficou claro o valor da troca de experiência orientada pela leitura e vivência de cada um. E a importância de sabermos quem somos, resgatando tanto nossa história de vida quanto compreendendo nossa personalidade e caráter para desenvolvermos uma forma nossa de aplicar a parentalidade.
Cada família tem sua história e sua forma de viver. E há muitas formas corretas de exercer a maternagem, sendo assim há um espaço enorme para que cada um possa construir uma relação harmoniosa e de crescimento que funcione e se aplique a sua dinâmica familiar.
Precisamos valorizar o respeito a todos e principalmente sem violentar a si próprios. Às vezes achamos que temos que seguir o que um livro diz, ou um cientista e esta tentativa se torna um fardo, uma violência com nossas características. Nos violentamos tentando fazer o que outros disseram ser o certo. Nosso desafios enquanto pais conscientes é buscar saber o que há de conhecimento sobre desenvolvimento humano, mas ter o discernimento de saber como aplicar em nossa vida com respeito a nossa própria essência.
Mais sobre o grupo de estudos Despertando pais conscientes
O grupo de estudos acontece uma vez por mês. Com encontros on-line e é aberto a todas as pessoas que desejem se desenvolver uma relação mais consciente com a parentalidade.
Mais detalhes é só clicar: Grupo de estudos Despertando pais conscientes.
Adorei o encontro!
O grupo é ótimo para aprendizado, troca de ideias e percebermos q nossas fragilidades n são só nossas.
É importante nos sentirmos aconchegados dentro de um ambiente em que pais tem dúvidas, erram, tentam e buscam fazer o melhor, cada família a sua maneira!