ensinando-sobre-coragem-criançaEnsinando e vivendo a coragem

Eu sempre procurei falar sobre as virtudes para o Ben e uma das que trabalhamos bastante foi a coragem. Fazia isso envolvendo algo lúdico ou nos elogios, dizendo coisas como: “você foi corajoso ao tomar a vacina”.

Em algum momento Ben precisou usar uma pomada específica que não queria. Reclamava que iria doer. Foi então que comecei a falar sobre a coragem.
“Coragem era uma virtude que vinha do coração e usávamos quando tínhamos medo. A coragem morava dentro da gente, era só usar”. Inventei até um colar da coragem. Sendo assim, quando ele tinha seus desafios (como tirar o pijama no inverno), me pedia o tal colar.

Experiência

Um dia fomos para a praia. O pai estava lavando os brinquedos na água, enquanto isso, eu estava com a Flora esperando na areia e Ben pediu para ir até a beira do mar encontrá-lo.
Na época ele tinha medo de entrar na água, por falta de contato, então o orientei para que esperasse o pai onde não tinham ondas. Sendo assim, ele foi, e fiquei atrás observando com a Flora no colo.
Chegando na beirinha do mar ele parou e esperou. Então neste momento veio uma ondinha um pouco maior,  que acabou o alcançando. Foi então que ele se assustou, teve medo, desequilibrou e caiu. Ao invés de levantar e vir para o lado da areia, não levantou, começou a engatinhar num princípio de pânico. Foi então que pensei comigo que ele iria chorar e fui levantando para buscá-lo. Assim que percebi que não chorou, parei.
Quando a água foi embora ele se levantou e veio correndo até mim gritando:
– Mamãe, Mamãe! Tu viu, eu nadei. Eu tive que nadar, tu viu?
Empolgadíssimo e orgulhoso de si mesmo.
Foi engraçado demais ver aquele pitoco nadando na areia feito comédia dos anos 50.
Era lindo de ver seu orgulho pela conquista, que,  a sua medida, foi uma grande superação.
Achei incrível perceber como o medo e o pânico agem em nós, como nos cega e impede que nossa inteligência nos faça levantar e ver que o perigo fica pequeno se mudarmos o foco do olhar. Por isso aprender a lidar com nossos medos é importante para nosso desenvolvimento como pais e seres humanos.

O que aprendi?

Controlar nosso instinto de super proteção;

Aprendi que precisamos nos esforçar para controlar nossos instintos de salvar ou resolver o problema da criança. Enquanto o fizermos teremos um treinamento de observação e aceitação de seu crescimento.
Precisamos e devemos deixar a criança resolver seus problemas sozinha. Portanto resolver seus desafios não é prova de amor e não significa ser presente, mas sim impedi-la de evoluir e perceber seus potenciais.

Valor da atenção plena

Neste momento Flora (8 meses) está aprendendo a ficar em pé. E seguidamente estou segurando-a para que não caia. Acontece que, quando não estou atenta, o meu segurar impede que ela experimente o movimento correto para ficar segura na nova posição. Por outro lado, quando estou atenta consigo apenas dar suporte necessário, deixando que ela exercite os músculos e teste os movimentos. Desta forma terá equilíbrio e cairá menos.
Este é um exercício intenso de atenção e dá trabalho para desenvolver. Por outro lado, é muito mais cômodo ligarmos o “piloto automático” e ficarmos perdidos em nossos pensamentos. Porém, assim estaremos estagnados e fazendo o mesmo com nossas crianças.  Desta maneira  a atenção plena se torna fundamental à maternagem. Ao mesmo tempo que é inviável um cuidador manter-se em atenção plena o tempo todo. Eis o dilema da maternagem nos dias de hoje. A sociedade não aporta aos pais para que tenham condição plena de atender às necessidades da maternagem. Não sinta-se culpado, nem acomodado.
Claro que o bebê recém nascido precisa ser protegido. Mas assim que aprende a rolar, arrastar e engatinhar já pode resolver desafios que nesta fase consistem nos movimentos de locomoção e no manejo dos brinquedos. Naturalmente precisamos garantir a segurança no espaço e eliminar, da melhor forma, os riscos.

O valor da autonomia

Aprendi que não solucionar os problemas não significa negligenciar. Consiste em estar junto, presente, orientando, questionando e amparando. Nunca impedindo de crescer. Perceba que o desencorajar pode ser algo sutil, sem palavras e que fazemos sem perceber.
Aprendi que precisamos treinar nosso desapego, a aceitação da real criança que temos e que ela tem muito mais potencial que imaginamos. Se não fizermos isso aos poucos, teremos um choque quando a criança romper com nosso cuidado excessivo, ou sofrer profundamente por não estar preparada para a vida, por nunca ter podido treinar ludicamente.

Como é bom superar nossas limitações

Neste episódio consegui me controlar e deixá-lo vencer o “alto mar” sozinho, na fase que ele precisa desta autonomia.
Observei que graças a meu auto-controle ele colocou em prática tudo que temos treinado. As pequenas orientações para que respire ao se sentir inseguro, que tenha calma, que ele não estará só. Que tem potencial e precisa acreditar nisso, foram postas à prova.

O valor do despertar dos potenciais da criança

Confirmei que é no dia a dia que construímos a bagagem da criança. Desta maneira, quando chegar os momentos de crise ela terá as ferramentas necessárias para vencer. De forma que ela lembre do que tem em sua bagagem nos momentos de dificuldade. Passado o furação, podemos refletir e ver o que foi possível aprender e como ser melhor a partir disso. Por isso tenho exercitado salientar o que aprendo com cada situação que posto aqui.

E você?

E você, o que tem aprendido com sua criança?
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