“Gravidez não é doença” e suas faces sombrias

#quemnunca ouviu esta frase? 
Ela sai assim, da boca de qualquer um, para dizer algo geralmente sem reflexão. Poucos pensam sobre o que significa esta frase e seu impacto na cabeça de uma gestante e consequentemente de seu bebê.
Ao meu ver este comentário tem suas faces sombrias e completamente desnecessárias. 

Vamos pensar a respeito?

SOMBRA 1 – Gravidez não é doença, siga fazendo tudo o que sempre fez

Baby image created by Rawpixel.com – Freepik.com

Essa frase geralmente complementa ou quer resumir a ideia de que a gestante pode seguir fazendo tudo o que fazia antes, afinal, gravidez não é doença. 

Sim, segue com o mesmo desempenho no trabalho (apesar do sono e cansaço insuportável oriundo do fato que você está multiplicando células enlouquecidamente dentro de você). 
Sim, se inscreva naquele curso que não vai ter problema cursá-lo grávida (você não vai dormir lendo os artigos e não vai ter desconforto ficando sentada o sábado inteiro assistindo as aulas). 
Sim, segue sua vida normal, afinal você é uma super mulher, e agora uma super gestante. 

Sei que nossa cabecinha nos faz achar viável e fundamental fazer isso agora. Parece que as oportunidades acabam depois que formos mães e queremos fazer em nove meses o que não fizemos em uma vida toda. Mas relaxa, coloca os pés no chão que não é assim.

A gestante sente mais cansaço, mais culpa, mais insegurança pois sente que ela precisa seguir a vida normalmente, afinal ela SÓ está gerando uma vida, 24h x 7 dias por semana.
Gerar uma vida dá enjôos, dor nas juntas, dor nos ossos, formigamento, azia, má circulação, incontinência urinária, dor nas costas, vômito, diarréia, gases, coceira, hemorróidas, acne, retenção de líquidos e deve ter mais uma lista que esqueci de citar. Ah, geralmente várias dessas ao mesmo tempo.
Tem ainda as questões não físicas, como insegurança, ansiedade, medo, falta de sono, alterações de humor, alterações hormonais, dificuldade de concentração, memória. É difícil até pensar.
Esses sintomas podem significar duas coisas: ou você está doente, ou está grávida. Claro que gravidez não é doença, mas toda a magia e beleza da gestação não eliminam seus incômodos. 

Tenho uma amiga que comentou surpreendida que minha gestação foi tranquila e fácil. Então eu confessei que, na verdade, não foi tranquila e fácil, foi saudável. Mas eu não reclamava para não importunar os outros, e fazia o que precisava fazer apesar da azia e dos desconfortos, porque achava que eu devia fazer tudo que sempre fiz e um pouco mais para não ouvir ninguém jogar na minha cara que gravidez não era desculpa.

Então, querida gestante, não caia na armadilha de que você precisa seguir fazendo tudo que sempre fez no mesmo ritmo. Afinal, você agora está fazendo algo mágico, sagrado e desafiador que é gerar uma vida. Você terá apenas nove meses para isso e uma vida inteira para ser qualquer outra coisa que você quiser. Esqueça essa cobrança durante a gestação.

Como fazer?

Tenha consciência que você está fazendo algo mágico, oferecendo seu corpo para que ele gere uma vida. Uma vida é muito mais que multiplicar células, é receber uma alma, um ser com personalidade que depende 100% de você. E, embora nossa cultura não pense sobre isso, este é um dos papeis mais valiosos que uma sociedade tem. É vida!

Aprenda a respeitar seu corpo, sua vontade, seus limites e esqueça o que quem não reflete sobre a importância de uma gestação saudável em todos os aspectos fala, diz, imagina e cobra. Esqueça os outros e suas cargas de cobranças insanas por nove meses na sua vida, são apenas nove meses, toda gestante merece isso.

Lembre que tudo se resolve e você está fazendo uma escolha virtuosa e generosa, a de gerar uma alma. A vida vai lhe retornar soluções dignas e virtuosas, é a lei da ação e reação. Então não sacrifique sua gestação por algo que não tem importância e valor.
 Não tenha medo, seja generosa com seu bebê que o resto se resolve no momento certo.

Não entre no jogo de super mulher, super mãe que nossa cultura impõe, é pura ilusão. Não é super quem trabalha demais, quem não cuida de si, quem não tem tempo para os amigos, quem não tem tempo para fazer nada e acariciar a barriga. É super quem respeita os outros e a si, quem é generoso,  quem tem tempo para ouvir as pessoas, quem faz o que é necessário e inteligente, quem tem tempo para ver a beleza das coisas, quem respeita a alma que leva na barriga e quem respeita quem leva essa alma. Exija e viva isso.

Conhece uma gestante? Seja consciente.

Não cobre dela que ela seja como uma não gestante, porque não é. E ajude-a a não cair neste engano para não sofrer, não gerar sofrimento para o bebê e poder ser uma mãe melhor sem cobranças desnecessária. Permita que a gestante viva de forma plena sua gestação. Pense nas palavras, reflita o significado disso e só então fale o que é realmente necessário. Não entre na onda de uma cultura que não valoriza a vida. 

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