Importância do vínculo na primeira infância para mantê-lo mais adiante
Sabe que só tem uma coisa que me dava mais medo que ter um bebê? Era que esse bebê chegaria à adolescência. E foi para enfrentar esta segunda fase que refleti tanto sobre o vínculo na primeira infância.
Depois que o Ben chegou aos dois anos esse medo só se agravou #adolescência do bebê. Sorte que tem esse treino para irmos sentindo o tamanho do drama. Mas vamos lá que este post é bem sério.
Nas minhas leituras tanto sobre gestação e parto quanto sobre puerpério e primeira infância a palavra vínculo aparece muitas vezes. Por isso resolvi aprofundar a reflexão sobre este tema.
Me dei conta que quando o bebê está na barriga, não sabemos bem quem ele é, o que tem além daquele bebê. E quando ele nasce, continuamos sem saber quem ele é. Tá, tecnicamente é nosso filho, mas o amor, o vínculo não é técnico. Não sabemos nada dele, do que vai gostar, do que não vai, seu temperamento. Para nós aquele ser é uma tela em branco que vai sendo preenchida aos poucos, um pouco por dia. O vínculo vai sendo pintado, momento a momento nesta tela, e a cada mês vai crescendo, até que em um momento estamos completamente alinhavados com aquele ser minúsculo e nem lembramos como era a vida sem ele.
Vínculo é um pouco mágico
Para mim o vínculo é uma construção um tanto quanto mágica. É tipo um grude. Você está lá vivendo, quando de repente aparece outra pessoa que faz algo e “pow” gruda em você, criou o vínculo que vai sendo abastecido pela vida. Alguns desses grudes são de pessoas bem próximas, outros de pessoas não tão próximas, mas que por algum motivo algo nos gruda nelas e vamos vivendo, distantes fisicamente, mas unidos de alguma forma sutil. Desta forma, o vínculo é algo que une, para além do racional e material.
Um caso típico é no trabalho, tem pessoas que trabalhamos por anos juntos, vivemos dia a dia, são pessoas legais, gostamos, conversamos, mas quando saímos da empresa, simplesmente nos distanciamos e nada resta. Mas às vezes, dentre tantos, tem alguma pessoa que fica, que grudou, e seguirá perto, mesmo que só nos falemos de tempos em tempos, ou que nem nos falemos, ela fica lá, guardadinha em nosso coração, nos inspirando sem nem se dar conta.
A importância da construção de vínculo na família
Família é aquela maluquice. Tem sempre umas “tretas” que não dá para meter a colher. E quando vamos tentar entender essa instituição ficamos meio zonzos porque tem muita gente e coisas envolvidas. É rótulo, é ordem de nascimento, é relações pais e filhos, são carências, são os genros e noras, o jeito e espaço que cada um vai conquistando, é um zelo misturado com dominação e falta de comunicação que quando vemos a coisa tá tão enroscada que não tem nem como reconstruir. E isso acontece nas famílias grandes e nas pequenininhas, vide o monte de mães solo que temos por aí.
Ao mesmo tempo o papel social da família é importante e fundamental na nossa construção como cidadãos (me refiro ao conceito platônico de cidadãos). É no núcleo familiar que está alicerçada a base da educação. A família é a principal responsável pela educação na primeira infância e se esta não estiver bem, teremos problemas na formação do cidadão e no futuro.
E acho que um dos pontos importantes para a manutenção de uma família saudável é o vínculo que vamos construir.
E como faz?
Pelo que tenho experimentado, vínculo se faz com presença. É preciso estar perto de coração para construir o vínculo. Não apenas presença física, mas uma presença de alma. São as experiências que vão aproximando, gerando memórias e tecendo o vínculo.
E hoje em dia é muito difícil estar realmente presente na família, pois temos muitas coisas para fazer. Não temos tempo, e o tempo que temos é para gastarmos com coisas burocráticas. Não conseguimos almoçar juntos, às vezes não conseguimos fazer nem uma refeição junto de nossa família durante a semana. E no fim de semana estamos tão cansados e estressados e cheio de coisas para fazer que estamos juntos fisicamente, mas não juntos realmente. E isso é um processo que promove a falência da instituição família.
Percebo que mesmo que as pessoas em uma família sejam diferentes, gostem e compartilhem coisas diferentes, se tecermos o vínculo de forma consistente teremos um núcleo unido e respeitoso. Mas acho também que há muito tempo desaprendemos a fazer isso.
E o que isso tem a ver com maternagem?
Não basta nos vincularmos aos nossos bebês fofos nos seus primeiros meses de vida. Precisamos gerar esse vínculo permanente em nossos núcleos familiares.
Em uma de minhas leituras, aprendi que o processo de formação humana começa com uma proximidade dos pais e vai se afastando com o tempo.
Proximidade
O bebê, quando nasce, se vê com sua mãe como um ser só. Ele não se percebe como um ser independente. Daí vem o “stress” da separação tanto na mãe quanto no bebê. E, quando esse processo é forçado, surgem sequelas emocionais. Com o desenvolvimento do bebê ele vai percebendo que ele é um ser autônomo.
Tem até alguns brinquedos que apoiam esse descobrimento. Um é a simples brincadeira de esconder o rosto e aparecer. O bebê deixa de ver a mãe/cuidador por alguns segundos e volta a encontrá-la. Assim passa a experimentar que ela some e aparece, e começa a aprender a lidar com a separação. Há brinquedos no qual um objeto esconde e aparece como a Caixa de Permanência que tem esse propósito. É um estímulo ao aprendizado que respeita o ritmo do bebê e não é abrupto como colocá-lo aos 4 meses em uma creche com uma semana de adaptação que é o que nossa legislação força nossas mães a fazer.
Início da separação
Durante toda a infância a criança será apegada aos pais, e vai descobrindo sua autonomia. Por volta dos 2 ou 3 anos ela se descobre autônoma e começa o famoso “terrible two” e a fase da negativa (tudo é não). Isso não é teimosia, é processo de desenvolvimento.
Independência
Com o tempo, a separação vai acontecendo, as referências vão mudando. O centro da atenção, que na primeira infância eram os pais, passa a ser externa, nos amigos, nos ídolos, nos professores. Este processo de afastamento dos pais é natural. Aí é que entra a importância do vínculo.
Valor do vínculo
Pensando nisso, percebo que se você criar um vínculo profundo e amoroso durante a primeira infância, esse vínculo permanecerá na adolescência. Não que as buscas externas não aconteçam. Elas vão acontecer naturalmente, mas não haverá tanto distanciamento entre pais e filhos adolescentes. No mínimo terá um laço mais forte entre este adolescente e seus pais. Claro que não é garantia, mas vínculo em excesso nunca é problema (falo vínculo amoroso, não dependência, ok?)
Nesta construção de vínculo está a importância de observar a criança, saber quem ela é por ela mesma e não o que queremos que ela seja. É permitir que ela se desenvolva, sem sufocá-la com nossas expectativas. É acolher e estar presente para quando ela precisa de seu apoio e deixá-la sozinha quando ela precisa apenas de si mesma. Assim, na primeira infância, nossa criança aprenderá os valores fundamentais da formação humana e estes ficarão marcados fortemente em seu caráter. Aí, ao afastar-se, elas o levarão consigo, sem que seus pais precisem estar perto. Conquistarão o mundo, mas o legado de seus pais estará em seu coração. E, mais importante, saberão enquanto desbravam o mundo, que, quando precisarem, seus pais estarão ali prontos para acolher. Isso dá segurança e segurança é tudo para o desenvolvimento de nossos potenciais humanos.
Convite
Faço o convite: reflitam sobre vínculo. A cada aniversário, pense em como estão sendo feitos os laços em seu núcleo familiar. Invista em protegê-lo na primeira infância e oportunize a sua criança que vivencie o melhor do mundo, sem precisar romper drasticamente os laços familiares. Quanto mais famílias felizes e estruturadas, melhor nosso mundo será!
Não sei como será na prática a adolescência aqui em casa, mas estamos investindo fundo no vínculo, espero que dê certo! Daqui uns anos volto para contar os resultados.