Criança dá trabalho e seu trabalho é nos desafiar. Saiba como olhar para isto de forma positiva.

Criança dá trabalho, e muito. Mas e se olharmos por outro ângulo? Quem sabe a maternidade seja uma escola, onde a criança é o mestre e nós, os aprendizes?

Quanto mais integro os conceitos filosóficos à maternidade, mais percebo que, ao assumirmos o papel social de mãe, entramos em uma espécie de escola de filosófica de desenvolvimento humano.

No decorrer da história sempre foi comum que grandes sábios fundassem suas escolas com o propósito de promover a evolução humana. Tivemos a Academia de Platão, as escolas mistéricas no Egito, os Pitagóricos e tantas outras. Essas escolas eram conduzidas por um sábio ou filósofo. Este orientava discípulos que, por sua vez, conduziam novos discípulos, perpetuando o conhecimento. Diante da constatação que criança dá trabalho, e muito, eu passei a perceber que a maternidade tem muitas similaridades com estas escolas, embora parcialmente capenga. Vou explicar.

A escola materno-filosófica

Ao engravidar entramos automaticamente neste caminho/escola de desenvolvimento humano. Acontece que nós, por termos nos entregado com tamanha força ao materialismo, acabamos perdendo o contato com uma sabedoria milenar. Então ficamos sem grandes mestres para nos conduzir nesta escola materno-filosófica.

O papel de mestre ou sábia está vago. De forma que acabamos sendo conduzidas diretamente pela mãe natureza. No entanto, também desaprendemos a falar o idioma da grande mãe que se embasa muito na intuição e sentidos mais sensíveis, para os quais não temos treinamento. De modo que temos uma barreira que dificulta a aprendizagem.

A criança como mestre

A criança dá trabalho mas pode ser vista como os mestres na escola da vida. Nosso contato principal é com nossas crianças. Sua intuição é melhor desenvolvida e por isso fazem melhor leitura das instruções da mãe natureza para nos ofertar. No entanto, fica uma escola meio de doido, onde cada um fala uma língua e não entendemos muito bem as lições.

Deve ser tipo o que aconteceu na Torre de Babel. Entretanto não temos muito como fugir desta escola, sendo assim, nos viramos como dá.

O trabalho da criança na maternidade

Se pararmos para ver a criança que dá trabalhO trabalho da criança é nos lançar os desafios, para que possamos enxergar nossas fragilidades e desenvolver nossos talentos.

A fragilidade do bebê, suas inconstâncias de sono, dependência total, nos mostra o quanto podemos ser fortes e generosas e o quanto isso nos deixa exausta. Nos ensina a importância de pedir ajuda e a incompetência que nossa sociedade, e nós, temos em ajudar.

A conquista prematura da autonomia de nossos filhos, quando ainda não estão totalmente desenvolvidos, nos ensina sobre a falta de controle que temos sobre a natureza. E nos convida a conviver com um medo constante de não sermos capazes de os proteger. Ajustar a tensão dessa linha entre autonomia e super proteção é um trabalho minucioso, que nem sempre acertamos.

As birras e teimosias nos levam ao limite da paciência, tolerância, criatividade. Mas é claro que não aguentamos e explodimos com mais frequência do que gostaríamos. Pois nossos neurônios colapsam e não conseguimos gerenciar todas essas emoções. Estas se somam com a sobrecarga de responsabilidades que nos foram atribuídas. E a criança segue desafiando nosso autoritarismo e egoísmo. Testando todos os nossos limites, e aprendendo a identificá-los.

Nosso papel de alunas

E nós, como alunas, qual nosso papel?

Aceitar que estamos nesta escola e não sairemos dela. Assim como aceitar que somos aprendizes solitárias, que não entendemos bem essa linguagem que a mãe natureza nos fala.

Somos feito aqueles personagens atrapalhados de filmes de comédia, sabem? Que fazem tudo meio desengonçado, mas que no fim, com uma força da natureza, acabam realizando boas ações.

Somos nós na corda bamba da maternagem. Então tenha certeza que estamos longe daquela aluna CDF que tira dez. Sendo assim, ansiar por este papel só nos levará ao colapso por estresse crônico. Não precisamos ser essa pessoa, que nem humana é, não existe, é uma ilusão de nossa coletiva mente romântica.

Estamos mais próximos do protagonista tragicômico do teatro pagão do que da Virgem Maria da ópera Cristã. Então não queira ser Virgem Maria, há quem diga que isso é até pecado.

Assuma o personagem tragicômico que dói menos. E reze para a Virgem nos enviar luz, muita luz, para que sejamos suficientemente boas. Aceite as suas limitações e as limitações do período histórico que vivemos.

Aceitação dos desafios da maternidade

Aceite que o trabalho da criança é nos dar trabalho. Não queira mudar sua função. Ela vai lançar pedras no nosso caminho justamente para que possamos aprender a caminhar.

Durante toda nossa vida enquanto mulheres aprendemos a conviver na sociedade desenvolvendo habilidades físicas e sociais. Quando entramos na escola da maternidade, começamos a nos treinar em habilidades mais íntimas, sutis e espirituais. Os desafios mudam, a visão do mundo muda e véus caem.

No caminho surgem outros tipos de pedras. Isso não nos torna nem melhores, nem piores que os outros. Ao mesmo tempo, não torna os outros nem melhores, nem piores que nós. Simplesmente desenvolveremos habilidades diferentes para contribuir com a sociedade. Desta forma, não há disputa, mas colaboração.

Aprenda com a criança que dá trabalho

Então, aprenda com as pedras que suas crianças jogam em seu caminho. Também com aquelas que batem forte na cabeça e te deixam até meio sufocada e atordoada. Quando conseguir respirar, ria por não ter conseguido desviar há tempo. Pois bem, admire a habilidade de sua criança em jogar tão bem desafios que você, com toda sua experiência de vida, tem dificuldade para lidar.

´E provável que seu filho tenha tido dificuldade para pegar o garfo e levar o arroz para a boca em determinada fase. Pois bem, enquanto mães somos como crianças que não conseguem levar a comida à boca sem derrubar. Por trás da máscara de adulta maquiada e penteada, há um rosto lambuzado de sopa. Eis o sentido da vida. Aprender a viver sem se lambuzar tanto e a conviver com as manchas que derrubamos em nossas roupas.

Limpa, imaculada, sem manchas? É papel para Virgem Maria, que é Santa, não para nós.


Isso faz sentido para você também?

Como você lida com os desafios da parentalidade? Você consegue ver seu filho como um professor? Lembra de algo que tenha aprendido com ele?

Comente e torne a experiência mais rica para todos.

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