O dia que usamos a virtude da coragem

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Acredito que o que tem de mais importante e válido é um adulto virtuoso, por isso aproveito todas as oportunidades para ensinar meus filhos sobre como exercitar a virtude.

Quando alguém é gentil conosco eu comento: “olha, aquela pessoa foi gentil por nos deixar passar primeiro.” Ou “você foi generoso me dando um pedaço de seu bolo”. Ou ainda, “ não arranque o brinquedo de sua irmã, seja gentil com ela, faça uma troca”.

Quando Ben começou a demonstrar alguns medos, depois dos dois anos, eu introduzi a coragem na nossa aventura. Venha ver como fiz!

Histórias sobre virtude

Na minha história a coragem mora dentro do nosso coração. Desta forma podemos ativa-lá pensando: sou corajoso, posso vencer!

Às vezes invento contos que envolvem a virtude. Então uso situações similares às que estamos vivendo. Desta forma crio um personagem, o desafio e formas de solucioná-lo e Conforme a criança for crescendo, podemos lhe perguntar sobre possíveis soluções. Assim sendo exercitamos com ela esta habilidade.

O amuleto da virtude

Outra ferramenta que usei foi criar uma espécie de amuleto da coragem que serve para situações específicas onde a criança tem medo. Ex. ir para a escola, dormir sozinha, etc.
Aqui eu peguei um colar de pedras semipreciosas que eu tinha. Na época Ben estava na vibe dos Anões da Branca de Neve, que pegam pedras preciosas na mina. Então quando ele segura o colar, ele ativa a coragem em seu coração, como ligar o turbo do motor. Desta forma fica mais fácil  perceber a coragem que está dentro de nós.

Teoria que sigo sobre a virtude

Acho importante salientar que a virtude já existe dentro da criança. Todo ser humano é corajoso, bondoso, generoso por natureza, trata-se da  nossa parte divina.
Acontece que às vezes. por conta do egoísmo, das limitações e até  de traumas vivenciados, vamos esquecendo de nossas potencialidades. Algumas vezes deixamos de usá-las porque alguém nos convenceu que não a tínhamos (é o caso dos rótulos ou do bullying). Então é fundamental lembrar que a virtude está em nosso coração e não no amuleto. O amuleto só nos ajuda a lembrar da virtude.

Quando comecei com o colar ele ajudou na situação específica, depois paramos de falar no assunto. Meses depois, Ben lembrou novamente do colar. Me pediu o colar porque queria sair da banheira e precisava de coragem para enfrentar o o frio. Assim, de vez em quando ele me pede o colar para brincar, ou para ajudar com algum de seus medos.

Um exemplo prático

Um dia fomos à praia. Ben tem receio de entrar no mar. Todo verão precisamos, nos primeiros dias, ajudá-lo a entrar na água.
Desta vez meu marido o pegou no colo e foi conversando, molhando o pé, mostrando que ele estava seguro, etc. Aos poucos ele foi baixando a guarda e entrando, até sentir-se a vontade.

Este processo precisa respeitar o ritmo da criança e seu limite, caso contrário podemos criar um trauma. Nós buscamos deixá-lo completamente seguro, com acolhimento (mão, colo, toque, olhar). Falamos o que vamos fazer (agora vou molhar teu pé, vou abaixar um pouco, vou pular a onda, vou te soltar aos poucos). É um processo de confiança que estabelecemos para que ele possa superar o desafio por ele, mas com apoio.

Depois de um tempo ele ficou mais tranquilo e aproveitou a brincadeira.

Então quando saiu, roxo de frio, veio correndo com cara de felicidade extrema. Meu marido nem terminou de dizer “conta pra mamãe” e ele já exclamou:

-Mamãe eu usei a coragem e venci o medo de entrar no mar.

Falou cheio de orgulho de ter vencido com a coragem.

Foi uma situação simples, mas ele pode agir com heroísmo. E isso fica marcado no consciente ou inconsciente dando bagagem de conteúdo humano para que a criança possa usar a situação nos desafios futuros.

Educação prática

Ao meu ver, isso é educar, é proporcionar que experiências do cotidiano sirvam de referência para aprendermos o que temos de melhor.
A criança, se cercada de pessoas virtuosas, aprende pelo exemplo, mas também podemos ajudá-la a nomear seus potenciais e virtudes, assim como sentimentos, assim seremos mais efetivos.

Atenção à não violência

É importante tomarmos consciência para não sermos violentos. É comum usarmos o medo e violência como ferramentas de educação. Considerando a história que citei, educar com violência seria forçar a criança a entrar na água, usando frases como:
– Você é covarde se não entrar.
– Ter medo é coisa de “mulherzinha”
– Você já é grande para ter medo.
– Fulano não tem medo.
– “Homens” não tem medo.
Detalhe, a forma violenta até funciona, mas vai gerar mágoas, rancor, traumas, sensação de incapacidade, criará mitos e preconceitos.

Quando dizemos que “o fulano não tem medo”, a criança vence o medo para ser amada como o fulano. Não é por ela, mas para agradar o outro. Criamos uma comparação e uma competitividade negativa. Quando apelamos para o gênero estaremos ensinando a esconder sentimentos e a serem frágeis, o que não é positivo.
Precisamos prestar atenção na forma como falamos com nossas crianças, para não acharmos que estamos educando quando na verdade estamos ameaçando. Educar é “tirar de dentro o que temos de melhor”. Se usarmos violência não estaremos tirando o melhor, mas criando feridas.

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O que ficou desta história?

Que vale o esforço, o tempo e a superação das nossas limitações para educar cada criança. Elas serão multiplicadoras deste processo de renovação do ser humano, onde nos despimos das cracas e cicatrizes para nos tornarmos mais leve, humanos e felizes.

Que é muito importante termos companheiros dispostos a ajudar no processo de educação não violenta. E melhor ainda quando temos uma rede de pessoas como avós, tios, amigos que apoiem nossa forma de ver a educação. Uma rede disposta a aprender junto a respeitar mais e violar menos.

Que quando sua criança diz: “eu usei o que você me ensinou” , o vínculo está feito. É a prova que estamos no caminho certo.

Espero conseguir inspirar neste canal outros pais a tirar os véus da educação rígida e violenta para descobrir a educação amorosa e respeitosa criando filhos seguros e com menos amarras.

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