A paciência com as crianças é, sem dúvida, um dos quesitos fundamentais para uma maternagem consciente. Não tem como convivermos com crianças sem muita paciência. Na verdade, não tem muito como conviver com seres humanos sem muita paciência.
Seguido as pessoas me perguntam sobre como eu sou paciente. Então neste texto vou abordar algumas sugestões sobre desenvolver, manter e recupear a paciência.
Sou uma pessoa super paciente e me controlo ainda mais com as crianças. Acontece que, como todo mundo, também tenho momentos onde a paciência passa longe. Geralmente ligados com dias de stress, noites não dormidas, cansaço e TPM. Também era muito mais paciente quando tinha apenas um filho.
Por isso que sempre afirmo que a melhor coisa pra manter a paciência com as crianças é tentar descansar e simplificar a vida.
Autocontrole
Em dias que você e as crianças não estão bom, as coisas complicam. Elas fazem exatamente o que nos tira do sério. Neste momento perdemos o controle e a primeira coisa que vem na cabeça é a violência: um grito, uma segurada brusca ou até a politicamente incorreta palmada.
Esta é a oportunidade de treinar autocontrole. É claro que um grito e uma palmada resolveria imediatamente o comportamento inadequado da criança, de forma rápida e fácil. Entretanto a consequência desta ação seria negativa. Punições despertam na criança sentimentos ruins e criam uma obediência por medo, não por admiração. E não me parece coerente querer que nossos filhos tenham medo da gente. Queremos que eles nos respeitem por admiração, não por que os ameaçamos. Queremos conquistar uma colaboração e não a impor uma obediência. Eu acredito muito nisso.
Quando estudamos filosofia, percebemos que todo ideal sociopolítico envolve colaboração. Os exemplos civilizatórios de sucesso eram embasados nisso. Quando o medo substitui a colaboração, começam a decadência e a tirania.
Perder a paciência com as crianças é normal
Primeiro quero acordar que é muito normal perder a paciência com as crianças ou em outras mil situações. Geralmente não aprendemos a controlarmos nossas emoções de forma efetiva. O que nos falam é que perder a paciência é feio, é ruim, é negativo. No entando isso não nos ensina a ser paciente, mas a fingir que a emoção não existe ou a abafá-la. Desta forma não nos dominamos, mas geramos tensões e compensações. Entretanto a vontade de xingar, gritar, castigar e punir permanece em nós. E algumas , ou muitas vezes, aplicaremos a punição. A ideia aqui não é cultivar a culpa por causa disso, mas nos libertar dela e criar um compromisso de sermos melhores um pouco a cada dia.
Estamos acostumados com uma educação violenta, vestígios da nossa própria infância e da nossa cultura em geral que é de violência física, emocional e moralmente falando.
Temos muitos motivos para sermos violentos e só a vontade para não o sermos.
E é ela que nos faz superar essas tendências primitivas.
Como usar a vontade para ter mais paciência com as crianças no cotidiano.
Algumas premissas:
Acreditar que a educação não violenta funciona.
Se você não acreditar, não terá motivos para ter vontade.
Posicionamento.
Precisamos aceitar nosso papel de educadores e essa responsabilidade. No escotismo aprendemos que o maior protege o menor. Nossas crianças são frágeis e precisam ser protegidas dos perigos do mundo, delas mesmas e de nós adultos.
Não se aproveitar da fragilidade das crianças.
Temos uma tendência de descontarmos em quem mais amamos as nossas dificuldades emocionais e insatisfações. Crianças fazem muito isso e nós adultos também. Sabe aquela vontade de gritar com o chefe que engolimos à seco? Geralmente vai ser liberada em casa com alguém da família. É o que falei lá em cima, que abafamos a emoção, não gerenciamos ela, então uma hora vamos explodir. Por não estarmos bem com nós mesmos descontamos nas pessoas próximas de nós, e muitas vezes respinga em nossos filhos, os mais frágeis da relação. Não é uma atitude muito legal.
Precisamos acreditar e querer melhorar
Ter fé que é possível sermos melhores a cada dia e querer fazer melhor. Não aditanta gritar, dar palmada e depois sentir culpa. Precisamos combater o que nos faz perder a paciência com as crianças, reduzir os momentos de agressividade só assim podemos evoluir e colaborar com os demais.
O que mais me dá força é a convicção na educação sem violência. Não faz sentido para mim que seja necessário promover o sofrimento para que um ser humano aprenda. Precisamos incitar a inteligência, o autoconhecimento para promover educação. Claro que a aprendizagem exige desafio e superação, mas não sofrimento gratuito. Claro que às vezes para aprender precisamos sofrer, mas o aprendizado não vem da dor, esta é consequência. Ex. Usei um sapato inadequado, escorreguei e quebrei o braço. Sofri a dor e aprendi a usar o calçado correto. É diferente de quebrarem meu braço para que eu entenda o quanto dói e evite, por medo, qualquer coisa que possa me gerar essa dor. Dentro da Disciplina Positiva é o que chamamos de Consequências Naturais.
Identifique os Gatilhos
Também busco refletir sobre o que me faz perder a paciência com as crianças.
Comigo a tendência de perder o controle acontece quando estou cansada e estressada. O que faço é reduzir ao máximo esses gatilhos e tentar gerenciar o que não posso evitar.
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Cansaço
O cansaço resolvi me permitindo dormir mais cedo, à tarde e acordar mais tarde quando desse. Abri mão de alguns compromissos e não assumi responsabilidades que vão me impedir de descansar.
Aceitei que é impossível fazer tudo e me permiti alguns “luxos” em nome da sanidade mental. Acredite, você passou anos da sua vida levantando cedo, trabalhando para caramba, é completamente viável e saudável para você e para seus filhos algumas amenidades como descansar mais. -
Desapego
Avaliei o que me gerava stress e fui desapegando.
Percebi que me preocupava muito com o que era responsabilidade dos outros. Eu inventava preocupações desnecessárias e fantasiosas. Mesmo estando tudo sob controle e fluindo eu ficava preocupada porque algo podia acontecer e começar a dar errado. Sabe aquilo de ficar olhando email o tempo todo achando que vai vir algum problema ou algo urgente? É um péssimo hábito. -
Autoconhecimento
Conforme fui me observando e percebendo essas atitudes tóxicas, fui tentando evitar. Aqui entra a reprogramação de pensamento. Eu ficava 24h preocupada com meus clientes, o que é desgastante. Quando percebi isso, passei a focar a atenção quando estava executando alguma tarefa para eles. Fazendo isso, reduziria as chances de ter problemas e poderia me despreocupar.
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Reduzir gatilhos
Precisamos dar um jeito de nos livrar do stress ou reduzí-lo. E se é algo que não temos como mudar, precisamos parar de nos preocupar e aceitar. Muitas vezes o que cansa é a carga mental que damos ao problema. Um exemplo é trânsito. Se é normal ter muito movimento no tempo entre sua casa e trabalho você pode mudar de casa ou de trabalho. Se não quiser fazer isso, pare de se incomodar. Escolha algo para fazer durante esse tempo. Vá de transporte público e durma, baixe alguns áudios, cante, pegue carona e vá lendo, qualquer coisa, mas pare de focar no problema.
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Atividade para contrapor o ritmo normal
Eu também busquei um exercício que me fizessem bem, que me desse prazer. Sabe aquela coisa de ir na academia só para ficar magra? Isso gera mais stress do que estar acima do peso. Se você ama academia, ótimo, se odeia procure algo que lhe faça bem. Eu optei pela Yoga que é exercício para a mente e para o corpo.
Tente incluir na rotina alguns minutos de algo que você realmente goste de fazer como artesania, leitura, jogos, crie um “tempo só para você”. Não precisa ser 1h, pode ser alguns minutos na semana ou no dia. Isso é muito difícil quando temos crianças pequenas, mas é importante. Uma alternativa é pensar em algo que inclua a criança junto. Ex: Yoga mãe e bebê, academia com cuidador, pintura de mandalas com a criança. Caminhada na rua.
O valor do equilíbrio
Só vamos educar bem nossos filhos se formos equilibrados, visto que a educação se dá pelo exemplo. Se não estivermos bem, se não cuidarmos de nós, não vamos ter dentro de nós coisas boas para oferecer. É uma escolha de vida cultivar o negativou ou se esforçar para virar a chave e quebrar a tendência ao que nos intoxica.
Um pouco de Platão
Platão ensinava que o dia deveria ser dividido em 4 partes de 6h: trabalho, descanso, autocuidado e ócio (ele usava o divino ócio que hoje se assemelha ao conceito de ócio criativo). Então o cidadão deve oferecer algo à comunidade através de seu trabalho. Deve descansar para recarregar as suas energias vitais. Também precisa do tempo para o autocuidado do corpo como higiene, limpezas, refeições. Além disso ele precisa de dedicação ao ócio divino, que é diferente de não fazer nada. Aqui envolvem as atividades relacionadas a cultura, criatividade, meditação, espiritualidade, enfim, tudo que eleva nossa consciência. As últimas quatro ou cinco gerações priorizaram o trabalho e deixaram o resto em segundo plano. Trabalhe, durma pouco, coma qualquer coisa rápida e não descanse. O resultado foram tantas situações de colapso mental, físico, doenças, etc. Agora se começa a falar nas partes que negligenciamos para recuperarmos a qualidade deste trabalho.
Aceitando ajuda
Por último, aprendi a aceitar ajuda, seja alguém para limpar a casa, para ficar um pouco com as crianças, para ajudar a organizar seus pensamentos e emoções, para só conversar. Aprendemos que para ser fortes temos que fazer tudo sozinhas e isso nos adoece.
Embora nossa sociedade esteja construída cada vez mais para vivermos a sós dentro das paredes de nossas casas, afundados em nossas telas e sufocados por nossos muros. Nós somos livres para não aceitar isso e buscar conviver em grupo, em rede, em comunidade. Somos seres sociáveis, embora estejam querendo nos convencer do contrário. Juntos somos mais fortes. Agora precisamos aprender a pedir ajuda e a ajudar com esse pensamento de rede. Porque há pessoas que não sabem ajudar e ao invés de uma relação de ajuda mútua criam um ambiente tóxico, mas isso é outro assunto.
Aprenda que pedir ajuda não é fraqueza, é sabedoria, fraternidade, troca. Com a maternidade assumimos o papel de ajudar nossos filhos o que consome muita energia, portanto é justo que sejamos ajudadas em outras tarefas.
Reflexão sobre suas atitudes
Outro hábito que desenvolvi é que quando faço algo que me arrependo, eu penso no que me levou a a tal atitude. Assim encontro as causas dos problemas e consigo buscar soluções. Vou pro Google, leio textos, busco opções e alternativas e vou aplicando, uma hora alguma serve para seu caso e ajuda a melhorar sua paciência com as crianças e relação familiar.
Uma coisa que fazemos aqui em casa é quando eu estou prestes a perder a paciência eu passo o cuidado das crianças ao meu marido. Da mesma forma quando vejo que ele está estressado, vou lá e assumo as crianças. Assim podemos descansar e sair da tensão.
Conclusão para que você também consiga manter a paciência com as crianças
Invista em autoconhecimento de qualidade (o que exige esforço seu e não os que parecem mágica).
Perceba os gatilhos que tiram sua paciência com as crianças.
Peça ajuda.
Quebre paradigmas.
Invista nos divinos ócios.
e então, seja feliz…